quinta-feira, 24 de julho de 2025

PALADAR E TATO

 


“...cuspindo-lhe nos olhos, e impondo-lhe as mãos...”

Para a geração do século 21, cuspir nos olhos pode ser considerado um ritual muito estranho. Todavia para aqueles dias, tratava-se de um costume corriqueiro.

Para entender essa atitude de Jesus é preciso saber que na antiguidade, o uso da saliva no trato social era comum e aquele ato revelaria ao enfermo que Jesus tinha a real intenção de curá-lo.

A saliva da boca e o toque das mãos. Jesus menciona dois sentidos de seu próprio corpo, e o cego certamente entendeu que Jesus iria curar o sentido da sua visão.

No capítulo ‘No Princípio Tudo Era Líquido’ falamos acerca do papel primordial da água, sendo a partir dela que todo o Universo teve origem. Relembrando aquele capítulo, podemos começar entender porquê Jesus usou líquido para trazer a claridade do dia àquele pobre homem.

Um dos principais nomes da filosofia de toda história da humanidade foi o grego Tales de Mileto. Esse filósofo não deixou textos escritos. Tudo o que se sabe sobre seus ensinamentos é baseado na tradição oral e em registros deixados por outros pensadores.

Esse filósofo acreditava que a água era a matéria-prima primordial, básica, responsável pela origem e formação de tudo que existe no Universo. O filósofo dizia: “O Universo é feito de água”, observando que, sem a presença da água, tudo estava fadado a morrer. Para Tales, a água era a fonte mais básica da vida.

Ao cuspir sobre os olhos do cego, Jesus estava convidando seus discípulos a voltarem ao Gênesis para desvendar alguns mistérios que são equivalentes; “assim na terra como no céu”: para o Criador, a construção do universo e a restauração dos olhos de um deficiente é a mesma coisa!

“No princípio criou Deus o céu e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” (Gn 1:1,2). A saliva é composta de 99,1% de água pura. Os demais componentes são substâncias inorgânicas (ânions e cátions) e substâncias orgânicas (mucina, amilase, ureia, lisozima, anidrase carbônica, tiocianato, glicose e algumas poucas outras substâncias).

Saliva é água.

Para o cego de Betsaida “havia trevas sobre a face do abismo”.

Para realização do milagre, o Mestre reconstruiu o cenário da criação. Ao cuspir sobre os olhos daquele homem Jesus reproduziu “a face das águas”.

Naquele momento os olhos inertes do homem de Betsaida era um ambiente equivalente ao do início do universo.

“...e impondo-lhe as mãos...”

As mãos de Jesus sobre os olhos do homem era o equivalente da pessoa do Espírito Santo: “... e o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas”.

Os primeiros momentos do Universo foram reproduzidos sobre aqueles olhos doentes: Água e Espírito.

O resultado não poderia ser outro senão o que foi revelado pela confissão do cego, após a indagação de Jesus. “Ele levantou os olhos e disse: Vejo pessoas; elas parecem árvores andando" (Mc 8:24).

Nesse ponto do texto, começa a confusão de interpretações! A grande maioria dos estudiosos afirma que Jesus efetuou a cura do cego em duas etapas. Na primeira investida de Jesus, a cura do homem foi insuficiente, ou melhor, ficou uma cura ‘mais ou menos’, e por não fazer uma cura plena, Jesus transformou aquele cego em um míope.

Parece piada, mas, pra quem não enxergava nada, passar a enxergar vultos, já estava de bom tamanho!

Não acreditamos assim!

Acreditamos que realmente o milagre foi realizado em duas etapas, mas que, não se tratou de uma cura ‘mais ou menos’ na primeira etapa. Pelo contrário! Na primeira etapa aconteceu uma cura ‘mais e mais’.

Acontece que o cego passou a enxergar muito além que qualquer outro ser humano. Passou a ver além do Véu da Realidade, sem a interferência do Inconsciente Coletivo.

Superior à visão de Raio X, aquele homem passou a ver o Universo Quântico.

Enxergava os homens como Árvores; exatamente a forma que os homens têm: a aparência de um corpo formado por 99% de espaço vazio ocupado por um enxame etéreo de átomos em intensa atividade, que brilham piscando em uma velocidade incrível, no formato de Árvore: A Árvore das Sephirots.

São inúmeros os textos das Escrituras onde os homens são retratados como árvores.

Afirmamos que muito além de ser apenas uma metáfora, a forma de árvore é a verdadeira forma humana após o rompimento do véu da realidade. Quando a matéria do corpo físico é transcendida pela composição do corpo espiritual, o que se vê são árvores que andam.

Não é sem propósito que o Evangelho é chamado de boa semente (Mc 4:1-41). Não é sem propósito que o povo de Israel é comparado a árvores: “Assim saberão todas as árvores do campo que eu, o Senhor, abati a árvore alta, elevei a árvore baixa, sequei a árvore verde, e fiz reverdecer a árvore seca; eu, o Senhor, o disse, e o fiz” (Ez 17:24); o homem bem-aventurado “será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará” (Sl 1:3).

Em outro momento dos Evangelhos, Jesus protagonizou um evento que nos leva a meditar sobre o formato espiritual do homem. No evento da maldição da figueira, Jesus condenou aquela árvore a se secar, perdendo definitivamente sua vida no mundo físico. Jesus fez isso motivado pela decepção que teve ao procurar frutos nela e não encontrar.  Afinal, em um lugar onde a figueira era a árvore mais comum, e onde o clima favorecia plenamente o seu desenvolvimento, porquê aquela figueira não dava devidamente o seu fruto?

Logo em seguida Jesus entra no Templo e expulsa os vendilhões que faziam comércio se valendo da fé do povo.

Tudo sincronizado: momentos antes de amaldiçoar os mercenários da fé, Jesus amaldiçoou uma árvore infrutífera. Árvore do mundo (figueira) sob o Véu sendo amaldiçoada e árvore do mundo (comerciantes) além do Véu sendo amaldiçoada (Mc 11:14,15). Uma árvore do mundo fisico sendo amaldiçoada é a metáfora para a maldição imposta às arvores do mundo espiritual.

Cesar de Aguiar


teolovida@gmail.com


retirado do livro CRIAÇÃO DESVENDADA

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