“No entanto, se descobrirmos uma teoria completa, ela deverá, no
devido tempo, ser compreensível... por todos... Então todos seremos... capazes
de participar da discussão da questão do porquê nós e o universo existimos.
(Stephen Hawking)
BERESHIT BARA
ELOHIM ET HASHAMAYIM VEET HAARETZ
בְּרֵאשִׁ֖ית
“Em
princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia.
Havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia por sobre a
face das águas” (Gn 1.1,2).
As palavras ‘Céus’ e ‘Águas’ são traduções de uma palavra que possui uma mesma raiz da palavra hebraica: HAMÅYM (הַמָּיִם:); e quando esse trecho nos apresenta a natureza da atividade do Espírito de Deus sobre a face das águas, somos convidados a mergulhar numa compreensão mais profunda a respeito da Criação.
A ação ativa do verbo ‘mover’, descrita pela expressão “se movia”,
em algumas traduções aparece como ‘pairava’, referindo-se à atividade do
Espírito Santo. Todavia essa palavra também pode ser traduzida pelo verbo
‘vibrar’. Ou seja: se movia = pairava = vibrava, onde no hebraico, o verbo é
conjugado no tempo presente – MËRACHEFET (מְרַחֶפֶת).
Quando nos recorremos à antiga sabedoria hermética nos deparamos
com seu terceiro princípio, que é ‘O Princípio da Vibração’: “Nada está parado; tudo se move; tudo vibra”. “Desde o TODO, que é Puro Espírito, até a forma mais grosseira da Matéria,
tudo está em vibração; quanto mais elevada for a vibração, tanto mais elevada
será a posição na escala. A vibração do Espírito é de uma intensidade e rapidez
tão infinitas que praticamente ele está parado, como uma roda que se move muito
rapidamente parece estar parada” (O Caibalion, por Três
Iniciados).
Entenda que o movimento vibratório do Espírito Santo é tão rápido
que o uso das palavras ‘pairar’ e ‘mover’ são perfeitamente adequadas para
transmitir a calma e a serenidade implícita no contexto da criação. Todavia,
sabemos que não houve nenhuma calmaria a nível atômico, afinal tudo vibrava em
uma velocidade inimaginável.
Assim como no exemplo hermético da roda, que de tão rápida passa a
impressão de estar parada, também podemos usar o exemplo da luz, que parece
estar parada enquanto ilumina um ambiente. Todavia sabemos que a luz é a
criação que se move mais rapidamente em todo o universo.
É por isso que a melhor palavra para definir a atividade do
Espírito Santo sobre a superfície do Lago das Águas Primordiais é o verbo
‘VIBRAR’: “... e o
Espírito de Deus vibrava sobre a face das águas”.
Anteriormente informamos que as palavras ‘Céus’ e ‘Águas’ são
traduções de uma palavra que possui uma mesma raiz do hebraico: HAMÅYM (הַמָּיִם:).
A partir desse conhecimento podemos interpretar que onde está escrito: “No princípio criou Deus os Céus”, pode
perfeitamente ser traduzido por: “No princípio
criou Deus as águas distantes”, e onde está escrito: “o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”, pode perfeitamente
ser traduzido por: “o Espírito
de Deus vibra sobre a face das águas”.
Analisando esse texto sob o olhar da Física Quântica, os “Céus” se
tornam algo muito maior do que apenas o céu azul que contemplamos sobre nossas
cabeças, e a ‘terra’ passa a ser uma entidade maior que apenas o planeta no
qual habitamos.
Entenda que no texto hebraico a palavra ‘céu’ está no plural.
“Céus” (no plural) transcende nossa concepção de carta celeste e dialoga com a
moderna ciência, que explica a existência de universos multidimensionais
(multiverso), criados como um campo de ondas permeado com cordas de energia.
Somado à interpretação de universos multidimensionais, podemos
promover um encontro do texto de Gênesis com a oração de Esdras: “Só tu és Senhor; tu fizeste o céu, o céu dos céus, e todo o seu
exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto neles há, e tu
os guardas com vida a todos; e o exército dos céus te adora” (Nm 9:6). O
‘exército dos céus’, conforme citado no texto, se refere às hierarquias
angélicas, que em suas atividades distintas, desempenham a finalidade de louvar
a Deus, como também dito nos Salmos: “Louvai-o,
todos os seus anjos; louvai-o, todos os seus exércitos” (Sl 148:2).
Perceba que existem “Céus”, e que neles habitam seres de categorias superiores
em força e no uso da inteligência, ou seja, em cada dimensão, ou em cada mundo
superior, existe um nível diferente de manifestação da criação.
Ao contrário de ‘céus’, que aparece no plural, a palavra ‘terra’
nos é apresentada no singular. Nesse sentido, ‘terra’ é o universo manifestado.
Enquanto Céus (plural) é a criação etérea, quântica e subatômica, Terra
(singular) é o universo tangível percebido pelos os sentidos físicos.
O verbo ‘mover’ ou ‘vibrar’, está no tempo presente, afirmando de
forma contundente que a criação não é um evento ancestral, procedida no
passado. O Verbo no presente indica que a criação é permanente no tempo e que o
tempo é a ilusão que acorrenta os homens à história. A criação se realiza no
tempo ‘agora’, como resultado da vibração do Espírito de Deus.
Deus não é limitado ao tempo. Presente, passado e futuro são
vistos por Ele simultaneamente ao mesmo tempo. Quando o Criador pronunciou: “Haja”; sua ordem não foi dada no limite do império do tempo, ou seja,
Deus não disse Haja nem no passado, nem no presente, nem no futuro, Deus disse
“Haja” e tudo continua no processo contínuo de criação.
Deus criou um multiverso com regras naturais e espirituais, que se
correspondem. Sob Deus o multiverso é autônomo enquanto regido por essas
regras.
O Eterno é Deus desde antes da Criação (Sl 90.2), e nada que foi
criado poderá tomar seu lugar, mesmo nos mais íntimos arroubos de prepotência
de qualquer uma de suas criações. Afrontando o crescimento da ideologia
panteísta afirmamos que absolutamente nada na criação pode ser adorado no lugar
de Deus, ou além Dele.
Deus é distinto de sua criação e por isso afirmamos que Ele não
faz parte dela, melhor dizendo, Deus não foi criado juntamente com a criação. O
conceito bíblico de Deus não é meramente filosófico. Não se trata de um Ser
inventado por outro Ser que assiste o desenrolar de fatos como um telespectador
que se diverte diante de uma tela de cinema. O conceito do Deus Bíblico e
Verdadeiro é o único conceito de Deus, pois Ele é o único Deus que existe.
Deus não é parte da sua criação, todavia é imanente a ela, regendo
e controlando.
A melhor definição para a palavra ‘Imanente’ é: ‘permanecer
dentro’, ou seja, por ser maior que sua criação, tudo o que existe cabe em Deus
e por isso Ele ocupa o posto daquele que é o Único digno de receber louvor e
adoração.
Cesar de Aguiar
retirado do livro Genesis Desvendado