quinta-feira, 29 de junho de 2023

OS DIAS DA CRIAÇÃO


“No entanto, se descobrirmos uma teoria completa, ela deverá, no devido tempo, ser compreensível... por todos... Então todos seremos... capazes de participar da discussão da questão do porquê nós e o universo existimos.


Se encontrássemos uma resposta para isso, seria o triunfo máximo da razão humana – pois então conheceríamos a mente de Deus”.

(Stephen Hawking)

 


BERESHIT BARA ELOHIM ET HASHAMAYIM VEET HAARETZ

בְּרֵאשִׁ֖ית

 

“Em princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia. Havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia por sobre a face das águas” (Gn 1.1,2).

As palavras ‘Céus’ e ‘Águas’ são traduções de uma palavra que possui uma mesma raiz da palavra hebraica: HAMÅYM (הַמָּיִם:); e quando esse trecho nos apresenta a natureza da atividade do Espírito de Deus sobre a face das águas, somos convidados a mergulhar numa compreensão mais profunda a respeito da Criação.

A ação ativa do verbo ‘mover’, descrita pela expressão “se movia”, em algumas traduções aparece como ‘pairava’, referindo-se à atividade do Espírito Santo. Todavia essa palavra também pode ser traduzida pelo verbo ‘vibrar’. Ou seja: se movia = pairava = vibrava, onde no hebraico, o verbo é conjugado no tempo presente – MËRACHEFET (מְרַחֶפֶת).

Quando nos recorremos à antiga sabedoria hermética nos deparamos com seu terceiro princípio, que é ‘O Princípio da Vibração’: “Nada está parado; tudo se move; tudo vibra”. “Desde o TODO, que é Puro Espírito, até a forma mais grosseira da Matéria, tudo está em vibração; quanto mais elevada for a vibração, tanto mais elevada será a posição na escala. A vibração do Espírito é de uma intensidade e rapidez tão infinitas que praticamente ele está parado, como uma roda que se move muito rapidamente parece estar parada” (O Caibalion, por Três Iniciados).

Entenda que o movimento vibratório do Espírito Santo é tão rápido que o uso das palavras ‘pairar’ e ‘mover’ são perfeitamente adequadas para transmitir a calma e a serenidade implícita no contexto da criação. Todavia, sabemos que não houve nenhuma calmaria a nível atômico, afinal tudo vibrava em uma velocidade inimaginável.

Assim como no exemplo hermético da roda, que de tão rápida passa a impressão de estar parada, também podemos usar o exemplo da luz, que parece estar parada enquanto ilumina um ambiente. Todavia sabemos que a luz é a criação que se move mais rapidamente em todo o universo.

É por isso que a melhor palavra para definir a atividade do Espírito Santo sobre a superfície do Lago das Águas Primordiais é o verbo ‘VIBRAR’: “... e o Espírito de Deus vibrava sobre a face das águas”.

Anteriormente informamos que as palavras ‘Céus’ e ‘Águas’ são traduções de uma palavra que possui uma mesma raiz do hebraico: HAMÅYM (הַמָּיִם:). A partir desse conhecimento podemos interpretar que onde está escrito: “No princípio criou Deus os Céus”, pode perfeitamente ser traduzido por: “No princípio criou Deus as águas distantes”, e onde está escrito: “o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”, pode perfeitamente ser traduzido por: “o Espírito de Deus vibra sobre a face das águas”.

Analisando esse texto sob o olhar da Física Quântica, os “Céus” se tornam algo muito maior do que apenas o céu azul que contemplamos sobre nossas cabeças, e a ‘terra’ passa a ser uma entidade maior que apenas o planeta no qual habitamos.

Entenda que no texto hebraico a palavra ‘céu’ está no plural. “Céus” (no plural) transcende nossa concepção de carta celeste e dialoga com a moderna ciência, que explica a existência de universos multidimensionais (multiverso), criados como um campo de ondas permeado com cordas de energia.

Somado à interpretação de universos multidimensionais, podemos promover um encontro do texto de Gênesis com a oração de Esdras: “Só tu és Senhor; tu fizeste o céu, o céu dos céus, e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto neles há, e tu os guardas com vida a todos; e o exército dos céus te adora” (Nm 9:6). O ‘exército dos céus’, conforme citado no texto, se refere às hierarquias angélicas, que em suas atividades distintas, desempenham a finalidade de louvar a Deus, como também dito nos Salmos: “Louvai-o, todos os seus anjos; louvai-o, todos os seus exércitos” (Sl 148:2). Perceba que existem “Céus”, e que neles habitam seres de categorias superiores em força e no uso da inteligência, ou seja, em cada dimensão, ou em cada mundo superior, existe um nível diferente de manifestação da criação.

Ao contrário de ‘céus’, que aparece no plural, a palavra ‘terra’ nos é apresentada no singular. Nesse sentido, ‘terra’ é o universo manifestado. Enquanto Céus (plural) é a criação etérea, quântica e subatômica, Terra (singular) é o universo tangível percebido pelos os sentidos físicos.

O verbo ‘mover’ ou ‘vibrar’, está no tempo presente, afirmando de forma contundente que a criação não é um evento ancestral, procedida no passado. O Verbo no presente indica que a criação é permanente no tempo e que o tempo é a ilusão que acorrenta os homens à história. A criação se realiza no tempo ‘agora’, como resultado da vibração do Espírito de Deus.

Deus não é limitado ao tempo. Presente, passado e futuro são vistos por Ele simultaneamente ao mesmo tempo. Quando o Criador pronunciou: “Haja”; sua ordem não foi dada no limite do império do tempo, ou seja, Deus não disse Haja nem no passado, nem no presente, nem no futuro, Deus disse “Haja” e tudo continua no processo contínuo de criação.

Deus criou um multiverso com regras naturais e espirituais, que se correspondem. Sob Deus o multiverso é autônomo enquanto regido por essas regras.

O Eterno é Deus desde antes da Criação (Sl 90.2), e nada que foi criado poderá tomar seu lugar, mesmo nos mais íntimos arroubos de prepotência de qualquer uma de suas criações. Afrontando o crescimento da ideologia panteísta afirmamos que absolutamente nada na criação pode ser adorado no lugar de Deus, ou além Dele.

Deus é distinto de sua criação e por isso afirmamos que Ele não faz parte dela, melhor dizendo, Deus não foi criado juntamente com a criação. O conceito bíblico de Deus não é meramente filosófico. Não se trata de um Ser inventado por outro Ser que assiste o desenrolar de fatos como um telespectador que se diverte diante de uma tela de cinema. O conceito do Deus Bíblico e Verdadeiro é o único conceito de Deus, pois Ele é o único Deus que existe.

Deus não é parte da sua criação, todavia é imanente a ela, regendo e controlando.

A melhor definição para a palavra ‘Imanente’ é: ‘permanecer dentro’, ou seja, por ser maior que sua criação, tudo o que existe cabe em Deus e por isso Ele ocupa o posto daquele que é o Único digno de receber louvor e adoração.


Cesar de Aguiar 

retirado do livro Genesis Desvendado

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