domingo, 6 de agosto de 2023

OS LEGÍTIMOS DOMÍNIOS DO HOMEM SOBRE A TERRA

 

FOI TARDE E MANHÃ

                                           

No primeiro capítulo de Gênesis, por seis vezes o escritor repete a frase: “e foi tarde e manhã, o dia... primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto e sexto”.

Para compreendermos como funciona o conceito que o texto quer nos passar é necessário saber que os calendários no mundo ocidental, funcionam de forma diferente do calendário judaico dos antigos tempos bíblicos.

Diferente da nossa cultura occidental o dia de Gênesis não começa pela manhã e termina de tarde. Ele começa pela tarde e termina pela manhã. Podemos perceber que a interpretação transmitida pelo texto é a de que um dia termina quando as trevas da noite são dissipadas pela luz da manhã.

Na lógica de Deus, a luz foi criada para vencer as trevas. Todos os dias, com o nascer do Sol somos relembrados de que a luz é vitoriosa sempre.

O ser inteligente e sensível à mensagem das Escrituras entende que a luz nossa de cada dia é para si, uma mensagem direta: o Sol se levanta e todos os dias destrói o domínio das trevas. Diante de tal premissa, o homem sábio se levanta e segue o exemplo do Sol.

O homem que o Criador colocou no planeta passou a ser o seu Fiel Representante. Como tal, o homem recebeu a incumbência de estabelecer seis domínios sobre a criação:

 

1-     domínio sobre toda a terra

2-     domínio sobre os peixes do mar,

3-     domínio sobre as aves do céu,

4-     domínio sobre os animais que se movem sobre a terra,

5-     domínio sobre todas as plantas e ervas,

6-     domínio sobre todo o réptil que se arrasta sobre a terra.

 

“E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra. E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento. E a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há alma vivente, toda a erva verde será para mantimento; e assim foi.” (Gênesis 1:28-30)

 

Foi assim que o homem se tornou o legítimo governante da Terra. Como Representante do Criador, ele tinha total autonomia de comando sobre a criação natural. E assim ele comandou a natureza até o dia em que rompeu com a confiança que Deus havia nele depositado.

Toda ação tem uma reação e por consequência a queda trouxe desgraça para o homem, para os animais, para o planeta e muito mais. A nível multiuniversal a queda desorganizou todo o arranjo da criação.

A desobediência do homem à expressa ordem de Deus o destituiu de seu cargo e corrompeu os domínios pacíficos que ele possuía sobre a natureza criada. Após a queda, a natureza se revoltou contra o homem, afinal, o pecado contra Deus também foi uma traição contra seus domínios.

O homem, que outrora possuía o controle pacífico sobre a criação, após a queda não gozava mais da confiança da natureza. A partir de então o homem deveria reconquistar essa confiança através do trabalho distinto e do respeito às leis naturais.

Após o rompimento da confiança entre Deus e o Homem, Homem e natureza também não possuíam mais uma relação de confiança. Afinal a confiança estabelecida entre a natureza e o homem existia apenas porque Deus era o avalista daquela relação.

O plano de Deus para o homem, em relação à criação era o Domínio. Deus ordenou que o homem dominasse sobre os seis reinos naturais.

Criado no último instante do sexto dia, o homem deveria dominar sobre todos os dias da criação: seis domínios para seis dias.

Perceba que Deus ordenou o domínio sobre o planeta e sobre a natureza, todavia não existe nenhuma ordenança onde o homem seja instruído a dominar o seu próximo. Isso porque o homem não foi criado para dominar o homem. O homem foi feito livre e a liberdade deveria ser respeitada entre as partes.

“... a terra, e sujeitai-a; e dominai...” (Gn 1:28). A terra deveria ser sujeitada e dominada pelo homem, todavia o homem não deveria ser sujeitado, nem dominado por ninguém.

Jesus é Senhor dos Senhores, indicando que todos os homens, abaixo Dele também são Senhores e não massa de manobra. Antes da queda, o homem era livre e existia para dominar a natureza criada. Após a queda, o homem, perdendo o domínio sobre a natureza, passou a ser carente de redenção e salvação.

Note que o estágio primário do homem era ser Senhor, todavia esse senhorio foi perdido, tornando o homem um servo da própria natureza criada.

O homem que antes era servido pela natureza, após o pecado passou a servi-la, arando a terra e plantando sementes. O que antes era uma via de mão única, onde a natureza servia ao homem, depois do pecado passou a ser uma via de mão dupla: o homem serve a terra e somente depois, a terra, agradecida, retribui ao homem com seu fruto.

Após o pecado, tudo mudou na relação entre homem e natureza. A natureza não mais acreditava no homem e por isso não mais aceitava o seu domínio pacífico. Com a perda da confiança, o homem não tinha nada mais a perder, afinal, perder a confiança é perder tudo.

A partir da queda, o homem, por uma questão básica de sobrevivência, deveria se empenhar em recuperar a confiança perdida. Deveria trabalhar a terra e respeitar suas características e vontades próprias. Ao invés de perguntar: ‘em que a natureza me serve (?)’, o homem deveria aprender a mudar o sentido da pergunta para: ‘em que eu posso servir a natureza (?)’.

Mas não foi isso que aconteceu!

Em sua ganância e egoísmo o homem sacrificou o Todo em função da parte; colocou sua vaidade em primeiro lugar conseguindo apenas piorar as coisas.  Sem obter sucesso em recuperar a confiança da natureza, ele declarou guerra contra as forças naturais e contra toda a criação.

Como um louco, nunca mais parou de enfrentar negativamente as forças da natureza.

O desmatamento e a matança irresponsável de animais são uma evidência cabal da natureza caída do homem. Aquele que recebeu a honra de dominar de forma pacífica sobre todos os níveis da criação material deixou que o seu egoísmo o transformasse em um tirano.

A energia maligna produzida pelo divórcio entre o homem e a natureza se tornou a força escura que eclipsou a virtude da empatia.

Quando se colocar no lugar do outro deixa de ser uma prática, o coração se endurece e tudo passa a ser matéria prima para fabricar objetos que satisfazem apenas a vaidade.

Entenda que nesse contexto, o outro não se limita a pessoas apenas. O outro também deve ser entendido como os animais, árvores, plantas e toda a vida existente. 

A falta de empatia faz com que tudo se transforme em meios que podem ser utilizados de qualquer maneira para suprimento de nossas desnecessidades.

Pessoas, animais e plantas se tornam coisas sem alma e sem significado, até que finalmente, também Deus se torna matéria prima dos nossos sonhos mais esquisitos.

Por isso existem aqueles que não ligam em jogar comida fora, afinal de contas, o seu ventre já está saciado. Por isso existem aqueles que não se importam em caçar discriminadamente apenas por prazer de matar, afinal, o que significa a vida de um animal silvestre? Por isso existem aqueles que se divertem olhando pássaros presos em gaiolas, todavia, não concebem a ideia de ficarem presos nem por um dia sequer.

Numa evolução desastrosa, existem aqueles que assumiram o último degrau da desgraça: aqueles que não se importam em comercializar a fé dos mais simples; esses são os falsos profetas de sempre, aqueles que vendem deus aos pedaços, como carne no açougue.


Cesar de Aguiar

teolovida@gmail.com

retirado do livro CRIAÇÃO DESVENDADA