sábado, 2 de janeiro de 2021

OS DOIS LADOS DO ESPELHO

 

Ao fitarmos a descrição do Lago das Águas Primordiais podemos reconhecer nele, os dois lados do espelho. O espelho perfeito e o espelho imperfeito.

Aquele espelho borrado pelo nosso pecado e que após a nossa queda no Jardim passou a refletir o mundo ao contrário.

O mundo perfeito é o lado do Trono de Deus - a superfície das águas.

O lado sem nitidez é o nosso mundo que foi submerso após a desobediência a Deus.

Após o evento catastrófico do Jardim, o mundo saiu da superfície do lago e se afundou sob as águas do Mar de Cristal.

Na superfície das águas tudo é espiritual e tudo se sobrepõe à materialidade.

Abaixo da superfície tudo é material e passa a ser visto a partir do inconsciente coletivo, denominado Véu da Realidade.

Submerso às águas do Lago das Águas Primordiais, toda a visão da Eternidade é obscurecida pela refração das imagens vistas sob as águas. O nosso mundo é a visão do mergulhador, que de olhos abertos sob as águas olha para o mundo exterior. Quanto mais profunda for sua aventura, maior será a obscuridade da sua visão, até que finalmente, envolvido pela turbidez das águas, passe a nada mais enxergar, senão a escuridão a sua volta.

Do nosso lado, a imagem do mundo real é refletida num espelho sem nitidez. Segundo as escrituras, um espelho de bronze fundido.

Jó foi interrogado pelo próprio Deus: “pode ajudá-lo a estender os céus, duros como espelho de bronze?” (Jó 37.18).  Naturalmente a referência é a Idade do Bronze, cerca de 3.000 a.C.

As primeiras superfícies planas construídas com a capacidade de refletir imagens surgiram há cerca de cinco mil anos na Suméria, onde hoje é a região do Iraque atual. 

Os espelhos antigos não produziam imagens nítidas, pois eram feitos em placas de bronze polidas com areia.

Saindo da Suméria, esses pesados espelhos de metal chegaram às mãos dos povos gregos e romanos e a partir de então foram disseminados em alguns países da Europa até se tornarem plenamente conhecidos em todo o continente Europeu no final da Idade Média. Nas palavras do Engenheiro Hélio Goldestein, da USP: “Até por volta do século 13, os espelhos eram feitos de metal polido, ligas de prata ou bronze com dureza suficiente para aguentar o processo de polimento mecânico e não se riscar facilmente”. Apenas no início do século 14 surgiram os primeiros espelhos de vidro desenvolvidos por artesãos da cidade de Veneza, na Itália, que de forma brilhante desenvolveram uma liga de estanho e mercúrio que ao ser aplicado sobre uma superfície de vidro plano, formava uma fina camada refletora na superfície oposta do vidro.

Como ficaram conhecidos a partir de então, os espelhos venezianos se tornaram imediatamente famosos em função da qualidade da reflexão das imagens.

Durante muitos anos os espelhos venezianos dominaram o mercado de espelhos. Todavia havia um grande problema no seu processo de fabricação. O custo era extremamente alto e a produção causava problemas de saúde nos artesãos, que se contaminavam com o mercúrio, metal pesado, altamente cancerígeno. 

Somente no século dezenove foram desenvolvidas novas técnicas para espelhar o vidro com prata química, excluindo a necessidade do mercúrio. Essa nova técnica, mais barata, mais simples e muito mais segura, popularizou o mercado de espelhos por todos os países do mundo.

O espelho de bronze é o parâmetro de Jó. Afinal, aquele era o único espelho que Jó conhecia. Um espelho sem qualidade, sem imagem nítida. Uma perfeita metáfora do mundo visto sob a turbidez das águas. “os céus, duros como espelho de bronze”.


Cesar de Aguiar

do livro Genesis Desvendado