sexta-feira, 29 de maio de 2020

O PECADO E A DESONRA DO MUNDO É O SEU PECADO E A SUA DESONRA

Um período de 400 anos vividos sob a humilhação de serem escravos no Egito foi tempo mais que suficiente para destruir todos os sonhos e expectativas de um povo que trazia em sua história a marca da promessa.

Um tempo de demasiada escassez de alimentos deu início à espiral descendente que arrastou Israel para sua mais profunda experiência de derrota. Tudo começou com um amistoso convite de José que na ocasião era o vice-rei do Egito. Em busca de dias melhores, as setenta pessoas da família do neto de Abraão mudaram de endereço. Saíram de Canaã em direção ao reino dos Faraós.

Após 400 anos a população hebréia ultrapassava a soma de mais de 2 milhões de pessoas. Mais de dois milhões de escravos! Depois da morte de José, lentamente os israelitas foram sendo domesticados e mudaram o status de convidados do Faraó para escravos do império.

O corpo de cada hebreu sofria com o trabalho escravo, todavia sua maior dor não era a provocada pelas chicotadas sob o causticante sol do Egito. O maior sofrimento vinha da humilhação que os inferiorizava e castrava sonhos, ideais e a possibilidade de construção da desejada nação soberana, conforme prometida a Abrão, o pai de todos eles.

Massacrados pela adversidade da situação, cada israelita tinha uma particular razão para se desviar da fé no Deus Invisível. Gerações inteiras passaram toda a vida como escravos. Nasceram e morreram com seus corpos presos às correntes. O bisavô, o avô e o pai nasceram escravos e certamente iriam morrer como tal. Após um longo período de fé frustrada, o descendente daquela genealogia não possuia mais heróis e nem mesmo uma pequena história de milagre operado pelo Deus que prometeu grandes coisas a Isaque e a Jacó. Com o tempo aprenderam a amar as correntes que os prendiam na mesma proporção em que se esqueciam do Deus Verdadeiro.

Com todas as prerrogativas em contrário ainda haviam uns poucos que mantinham acesa a divina chama. No íntimo de alguns sofredores, o espírito da fé Abraâmica não foi completamente destruída. Ainda haviam homens que não viviam para o presente nem para o futuro. Aguns poucos extraordinários, pela fé, tendo seus corações purificados das paixões e da loucura, exerciam domínio sobre o próprio corpo mantendo subjugado os sentidos do corpo físico. Viviam acorrentados ao tempo, todavia livres na eternidade, onde em apaixonada oração carregavam o fardo espiritual de uma nação inteira.

Ainda que milhões de pessoas nasceram e morreram sem ver esse dia, após 400 anos de agonia, Deus interveio de forma definitiva na história da Sua nação escolhida.

O Êxodo é a história do que Deus fez em 40 anos.

Moisés é de longe o maior líder de toda história da humanidade. O que ele fez em 40 anos muitas nações não conseguiram fazer, mesmo após centenas de anos. Moisés liderou uma nação de escravos e deu a eles leis sociais, leis jurídicas, leis políticas, construiu o tabernáculo e fundou a religião judaica. Deu a uma geração de escravos a posse de uma vasta extensão de terra para estabelecimento da sonhada nação.

Transformou uma nação de escravos em uma nação de guerreiros que conquistaram toda a planície de Canaã. Diante dos milagres operados no Egito era naturalmente esperado que a história de Israel fosse diferente daquela que viveram. Esperava-se uma espiral ascendente, todavia não foi isso o que aconteceu! Mesmo diante de tantas manifestações milagrosas a história de Israel continuou marcada por rebeldia e afastamento de Deus. As derrotas sofridas e as desgraças sociais enfrentadas pelo povo judeu na maioria das vezes não serviu de professor. O povo sempre cometia os mesmos erros e eram punidos da mesma forma pelos habituais pecados de estimação. O maior erro de Israel não eram os erros em si, mas a não evolução. Não aprender com os erros é pior do que o erro praticado. Existem duas maneiras de se alcançar a sabedoria. Uma é pela experiência e a outra é pela reflexão. A experiência é dolorosa e em um momento de descuido pode até vir a matar o homem, por isso, na escola da vida devemos exercitar o aprendizado com os próprios erros, afinal o preço que se paga pelos erros cometidos é alto demais para não serem aproveitados. A vida é um livro que deve ser lido e sua leitura deve produzir efeitos práticos, reação e mudança.

Houveram várias reformas ocasionais. Homens como Gideão, Samuel e Davi tentaram resgatar a verdadeira adoração a Deus, todavia essas reformas nunca foram eficazes em reverter o mal que o pecado causou na estrutura da nação.

Embora todas as tentativas tenham sido frustradas, a chama da fé nunca se apagou do coração dos mais piedosos, que assumiam de forma silenciosa um enorme peso sobre os próprios ombros aceitando a missão de serem os olhos pelos quais o Redentor chorava pelo seu próprio povo. O amor de Deus chora diante da sua inexorável justiça. Amor e Justição são atributos do caráter de Deus e jamais veremos o amor anulando a justiça ou a justiça relativizando o amor.

A atual sociedade faz novas perguntas ao texto bíblico! Perguntas que nunca foram feitas nos tempos dos protagonistas das histórias da Bíblia. ‘Por que Deus sendo amor permitiu que os israelitas sofressem sob o jugo de Faraó?’ Acontece que a definição que a atual sociedade tem de ‘amor’ é um conceito esvaziado e distorcido. Antes de questionarmos: ‘Por que Deus sendo amor fez o que Ele fez’, devemos questionar se a definição que temos de amor é de fato uma definição correta.

Nos dias atuais um pai amoroso é aquele que paga a fiança para tirar o filho assassino da cadeia. Isso não é amor, é egoísmo. O verdadeiro amor aceita os aguilhões da justiça. Entende que a evolução do caráter é superior ao conforto do corpo físico. Deus puniu Israel objetivando a evolução de uma nação inteira. Enquanto a justiça punia o amor chorava. Justiça continuou sendo justiça, e o amor continuou sendo amor, ambos na mesma medida.

As calamidades de Israel objetivaram o amadurecimento de uma nação que deveria possuir características transcendentes ao tempo. O fracasso tem o poder de quebrantar as almas pequenas e engrandecer as grandes da mesma maneira que uma ventania apaga o fogo da vela e atiça o fogo da floresta.

Sempre houve mulheres e homens piedosos que pediam perdão pelo coletivo e oravam com sinceridade pelo milagre de dias melhores. Os santos se penitenciavam diante de Deus pelos pecadores. Aceitavam a culpa coletiva e oravam por todos.

O pecado e a desonra do mundo é o seu pecado e a sua desonra. No momento que aceitamos ser a causa do nosso próprio caos ganhamos o poder de nos tornarmos também a causa da solução. Somos a morada de Deus e o Templo do Espírito Santo. O autoconhecimento, razão da evolução humana, vem da comparação de nós mesmos com a pessoa de Jesus. Dentro de cada crente está a luz do mundo, a única luz capaz de iluminar o trajeto que o espírito deve trilhar. Quem lê o passado e prevê o futuro vive o presente como se fosse a eternidade em sua plenitude.

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Cesar de Aguiar