domingo, 18 de janeiro de 2015

A PARÁBOLA DA RAPOSA E OS PÁSSAROS, O FUNERAL E O ARADO - parte 3

O TERCEIRO DIÁLOGO - A PARÁBOLA DO ARADO


O TERCEIRO É UMA MISTURA DOS DOIS PRIMEIROS.
QUER SEGUIR E CONSIDERA O PREÇO A SER PAGO, MAS
ANTES DE QUALQUER COISA QUER VER SUA VIDA TERRENA DANDO CERTO!

61 Disse também outro: Senhor, eu te seguirei, mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa.
62 E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus.

ESTA PARÁBOLA FOI CONTADA PARA PROVOCAR UMA SOCIEDADE VICIADA EM SUCESSO.

Como nos tempos de Jesus, nossa sociedade continua hedonista tanto quanto!

Pessoas que acham que felicidade é ver tudo dando certo à sua volta.

Adão pecou no paraíso.
Disse sim à serpente onde todas as circunstâncias eram perfeitas.
Jesus foi fiel a Deus no deserto.
Disse não ao tentador onde todas as circunstâncias eram desfavoráveis.

Este candidato a discípulo se oferece para seguir o Mestre, mas impõe uma condição. A condição imposta é legítima e louvável! É provável que ele seria autorizado a ir em casa para dizer adeus à sua família.
No Antigo Testamento vemos Elizeu pedindo algo semelhante a Elias:

1Rs 19:19-21
19  “Partiu, pois, Elias dali e achou a Eliseu, filho de Safate, que andava lavrando com doze juntas de bois adiante dele; ele estava com a duodécima. Elias passou por ele e lançou o seu manto sobre ele.
20  Então, deixou este os bois, correu após Elias e disse: Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe e, então, te seguirei. Elias respondeu-lhe: Vai e volta; pois já sabes o que fiz contigo.
21  Voltou Eliseu de seguir a Elias, tomou a junta de bois, e os imolou, e, com os aparelhos dos bois, cozeu as carnes, e as deu ao povo, e comeram. Então, se dispôs, e seguiu a Elias, e o servia.”

·      A solicitação de Elizeu foi concedida e ele teve tempo inclusive para matar e assar uma parelha de bois e fazer uma festa.
       O sentido da parábola pode ser descoberto a partir de um estudo minuncioso do pedido feito pelo candidato.

61 Disse também outro: Senhor, eu te seguirei, mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa.

A palavra grega traduzida como “despedir” é APOSTASÕ.
Essa palavra quer dizer literalmente: ‘dizer adeus’. 
Dizer adeus à família, analisado sob a luz da cultura palestina significa:"pedir permissão e opinião aos que são autoridade dentro da sua casa."
Todos os que estavam ajuntados à beira do caminho sabiam perfeitamente que o pai daquele jovem jamais autorizaria a sua saída de casa para partir atrás de um projeto duvidoso. Afinal, Jesus Cristo era um Rabi estranho em relação aos demais rabis. E também pregava uma mensagem estranha. E vivia uma vida estranha, que contradizia a ortodoxia judaica.
Seus pais jamais o permitiriam seguir Jesus. 
Dessa forma, o pedido do candidato soa de forma leviana.
Ele apresenta uma desculpa proposital, ou seja, ele impõe a Jesus uma condição que ele já de antemão sabia a resposta do pai.
Os que viviam na época de Jesus sabiam exatamente qual seria a resposta do pai à despedida do filho. E a resposta seria não.
Primeiro porque os pais mereciam a honra de serem cuidados pelo filho até o dia de sua morte. Segundo porque Jesus tinha um ministério duvidoso e era um Rabi muito jovem com um ministério estranho.
No mundo palestino dos tempos do Novo Testamento, a autoridade do pai é suprema.
Não é atoa que Deus para se comunicar com seu povo assume a figura do pai.
Muitos interpretam a figura do pai significando carinho e colo.Para os judeus do tempo de Jesus, a figura do Pai significava outra coisa: era COMPROMISSO, RESPEITO E OBEDIÊNCIA). 
Um médico de mais de 40 anos, com sua vida estabilizada profissionalmente, financeiramente, com esposa e filhos, morando em uma grande região metropolitana, visita seu pai na aldeia para lhe pedir permissão para mudar de emprego, ou mesmo para fazer uma viagem internacional.
Esse comportamento dos filhos em relação à autoridade paterna se repete na cultura palestina até os dias atuais.

O que o jovem está dizendo a Jesus, em outras palavras é:
“- Vou te seguir, Jesus, mas preciso primeiro pedir ao meu pai, pois a autoridade dele é maior do que a sua. Somente depois da autorização dele poderei me aventurar contigo pelo mundo.”

Esse rapaz é o símbolo das pessoas que se comprometem com reino de Deus somente de boca.
Que vão arranjando desculpas e justificativas para postergarem o plano de Deus para elas.


Li a historia de um professor de classe bíblica que estava ensinando o Evangelho para cristãos em Israel.
Quando ele leu essa parábola os alunos empalideceram, e se assustaram com a afirmação de Jesus que reivindicava para si uma autoridade superior à do pai do rapaz.
Só havia duas reações possíveis à reivindicação de Jesus:
AQUIESCÊNCIA OU HOSTILIDADE.


62 E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus.

A aração da terra é uma operação muito exata e exige do arador muita competência e treino. O arador tem que segurar o arado com a mão esquerda enquanto a mão direita, com uma vara de aproximadamente um metro de comprimento toca os bois que puxam o arado.Essa vara  tem a finalidade de guiar os passos do boi, que na maioria das vezes tratava-se de animal teimoso. Ele deve manter o arado sempre no centro das pernas dos bois e deve controlar,com a mão esquerda a profundidade do sulco para livrar a lamina do arado das pedras que a cegam.

Haviam vários passos para a aração:
1-      Sulco profundo para abrir estrias para facilitar a absorção de água, 
2-      Sulcos estratégicos para facilitar a drenagem do solo e impedir formação de poças, 
3-      A terceira aração era para preparar o solo para receber imediatamente a semente, 
4-      A aragem final existia após a semente ser plantada: todo cuidado devia ser mantido para não expor as sementes para serem comidas pelas aves.
     Essa atividade requer toda disciplina e atenção.
Se o arador olhar pro lado um novo sulco é aberto em local errado, fora do alinhamento ou na profundidade incorreta.

Um arador incompetente é pior do que um arador improdutivo.
O incompetente é destruidor!

DESSA MESMA MANEIRA O SEGUIDOR DE JESUS DEVE QUEBRAR TODOS OS LAÇOS COM O PASSADO E FIXAR OS OLHOS APENAS NO REINO VINDOURO DE DEUS.

Segurar o arado é uma responsabilidade que exige toda atenção e dedicação. Pois o trabalho mal feito do arador incompetente põe a perder toda a utilidade do campo.
O arador é aquele que trabalha em harmonia com trabalho já executado.
Em harmonia com a lamina que sulca a terra.
Em harmonia com o boi que puxa a ferramenta
(se o arador insiste em arrancar alguma raiz desnecessária ou mesmo insiste em arrancar pedras ele pode estar cansando o boi, sem necessidade).

O ARADOR TRABALHA EM HARMONIA COM O SERVIÇO JÁ FEITO, COM O SERVIÇO QUE SE TEM A FAZER E EM HARMONIA COM SEU ARADO E COM SEUS BOIS.

MOMENTO TENSO – MOMENTO DE DECISÃO

Duas lealdades:
Lealdade a Jesus como fundador do Reino de Deus e todas as suas absorventes exigências.
Lealdade à família e à autoridade dos governos legítimos constituídos pela cultura e pelas leis sociais.
Quando essas lealdades entram em conflito, o processo é extremamente doloroso.
Este texto é mais um exemplo das ‘duras palavras’ que estão espalhadas por todo o Evangelho.

DISCÍPULO QUE NÃO CONSEGUE RESOLVER ESSE CONFLITO DE LEALDADE NÃO ESTÁ APTO PARA O TRABALHO NO REINO DE DEUS.
Qual foi a decisão do jovem?
- Não sabemos.
Mais uma vez a parábola fica em suspenso.
De forma que fica para cada ouvinte ou leitor, proceder a resposta.
Nessa parábola Jesus faz uma reivindicação e um desafio ao candidato ao discipulado:
‘A MINHA AURORIDADE É ABSOLUTA!
MESMO QUE O CONFLITO SEJA O PIOR DE TODOS. MESMO QUE SEJA COM A PRÓPRIA FAMILIA, ISSO É APENAS UMA DISTRAÇÃO. O VERDADEIRO SERVO NÃO OLHA PARA TRAZ – ELE DECIDE IMEDIATAMENTE OBEDECER AO SEU MESTRE.’

O moderno cristianismo é obsecado por tijolo e concreto.O conceito de edifício está tão arraigado em nossas mentes que se um grupo de crentes começa a reunir-se, a primeira idéia que vem à mente é a de alugar um salão."- Afinal, igreja não existe sem um salão para as reuniões", dizem alguns.
Dessa forma a construção fica mais importante do que as pessoas.
Entre a cesta básica e o milheiro de tijolo, compra-se o tijolo e acha que dessa forma estamos fazendo a obra de Deus.
O salão, a catedral fica mais importante do que as pessoas que as frequentam.

NO VELHO TESTAMENTO DEUS TINHA UM SANTUÁRIO PARA SEU POVO.
NO NOVO TESTAMENTO, DEUS TEM SEU POVO COMO UM SANTUÁRIO.

O QUE APRENDEMOS COM ESSA PARÁBOLA?

1   A lealdade ao chamado do reino de Deus deve ter prioridade sobre todas as outras lealdades.
     O discípulo com lealdades divididas é uma força desintegradora para a obra do reino, e dessa forma é inapto a participar dele.
O ato de seguir Jesus, não é definido como uma sensação de uma luz interior ou a percepção de uma consciência intelectual.

Seguir a Jesus é comparado a uma atividade criativa, uma tarefa consumidora e ativa, como a de colocar as mãos no arado e dirigir uma junta de bois.

César de Aguiar
teolovida@gmail.com

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A PARÁBOLA DA RAPOSA E OS PÁSSAROS, O FUNERAL E O ARADO - parte 2

O SEGUNDO DIÁLOGO - A PARÁBOLA DO FUNERAL


Lucas 9: 59-60

59 E disse a outro: Segue-me. Mas ele respondeu: Senhor, deixa que primeiro eu vá a enterrar meu pai.
60 Mas Jesus lhe observou: Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu, vai e anuncia o reino de Deus.



O erro dos Fariseus estava nos acréscimos! Acrescentavam um punhado de leis humanas na Lei de Moisés e as repassavam para as gerações subsequentes. A isso eles chamavam de Tradição dos Anciãos.
O erro dos Saduceus estavam no outro extremo – subtraíam blocos inteiros das Escrituras. Negavam a existência dos anjos, dos espíritos, da vida após a morte, da ressurreição.
Já os Escribas eram a elite! Eram eles que escreviam aquilo que os fariseus seguiam.
Era por esses grupos que a autoridade de Jesus era desafiada. E não demorou muito tempo para esse pessoal tramasse a morte de Jesus.

As denominações evangélicas da atualidade não atuam de forma diferente: algumas aumentam o que Jesus ensinou. Outras subtraem e ficam somente com aquilo que lhes interessam. E essas não permitem que Cristo seja o Senhor ressuscitado. Absorvem a herança dos Fariseus e Saduceus e mantêm Cristo morto.
A igreja evangélica no Brasil é a que mais cresce no mundo. Mas é também a que menos influencia. 

Esse segundo diálogo a beira do caminho nos apresenta um personagem que recebe uma ordem direta de Jesus para que inicie sua trajetória de discípulo. A desculpa apresentada é comovente: ele quer fazer o funeral do pai. 
Um olhar crítico para os costumes da sociedade judaica nos apresenta uma realidade cultural que nos faz entender claramente o que Jesus solicita desse jovem. Em um primeiro momento nos aborrecemos com a exigência do Mestre, que ao entendimento mal esclarecido soa como uma afronta ao sentimento de perda familiar mais doloroso: quando o querido chefe familiar está com seu corpo sendo velado.
Mas, um rápido raciocínio nos leva a perceber um fato: se o pai desse jovem estava morto exatamente naquele momento, o que ele estava fazendo à beira da estrada? O certo não seria ele estar no velório de seu pai?

A frase: ‘ENTERRAR O PAI’, é uma expressão cultural da época e significa os deveres do filho de ficar em casa e cuidar dos pais até que eles descansem em paz. 
É de certa forma uma obediência a uma interpretação da lei: “honra pai e mãe”. 
Os escribas interpretaram esse texto e fizeram um adendo à lei, estabelecendo que o filho tem o dever de ficar em casa até a morte dos pais. Então, só então ele pode pensar em outras opções.
Jesus reconhecia que era desonroso aos pais ficarem sem filhos para os enterrarem. Por isso, no momento de sua crucificação, Cristo designa João, o discípulo amado para cuidar de Maria, sua mãe. 

Existe uma confusão na mente do segundo personagem, afinal, seguir Jesus pode significar quebrar a tradição cultural. E da forma como ele conhece a religião, significa quebrar um mandamento da lei de Moisés.

Ele está dizendo a Jesus: ‘- A minha comunidade faz certas exigências, e a força dessas exigências é muito grande. O que o Senhor está querendo é que eu fruste as expectativas da minha comunidade?’

É EXATAMENTE ISSO QUE JESUS REQUER!

O segundo personagem está adiando o compromisso de seguir Jesus para um futuro distante, para quando seu pai ficar velho e morrer. 
Mal sabia ele que em muito pouco tempo, o próprio Jesus estaria sendo morto na cruz.

“Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu, vai e anuncia o reino de Deus.”
Existem mortos espirituais na comunidade local. Deixe que eles cuidem dos assuntos dessa vida e dos interesses desse mundo. Ao discípulo está ordenado a anunciação do reino de Deus.

A PROCLAMAÇÃO DO REINO DE DEUS  SÓ PODE TER SIGNIFICADO QUANDO APRESENTA O REINO COMO UMA REALIDADE URGENTE.
Exige abnegação. Renúncia.

O QUE APRENDEMOS COM ESSA PARÁBOLA?

Lealdade a Jesus e ao reino de Deus é mais importante do que lealdade às normas culturais da sociedade.
Jesus não aceita nenhuma autoridade superior à sua.
Exigências sociais, culturais e religiosas não são desculpas aceitáveis para o fracasso do discipulado.
O ‘segue-me’ de Jesus é definido pela ordem: ‘Participa do reino de Deus e proclame sua mensagem’.


César de Aguiar
teolovida@gmail.com

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

A PARÁBOLA DA RAPOSA E OS PÁSSAROS, O FUNERAL E O ARADO - parte 1

Lucas 9:57-62

57 E aconteceu que, indo eles pelo caminho, lhe disse um: Senhor, seguir-te-ei para onde quer que fores.
58 E disse-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.
59 E disse a outro: Segue-me. Mas ele respondeu: Senhor, deixa que primeiro eu vá a enterrar meu pai.
60 Mas Jesus lhe observou: Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu vai e anuncia o reino de Deus.
61 Disse também outro: Senhor, eu te seguirei, mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa.
62 E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus.

São três diálogos à beira do caminho que pertencem a uma única estrutura de texto. Diálogos com objetivos comuns, todavia com uma riqueza infinita de detalhes culturais que inspiram interpretações poéticas e 'teolopráticas'.

O PRIMEIRO CANDIDATO A DISCIPULO ESTÁ DISPOSTO A SEGUIR E IR A QUALQUER PARTE, MAS NÃO CONSIDEROU O PREÇO. 
JESUS O AVISA SOBRE O PREÇO A PAGAR.

O SEGUNDO RECEBE UM CHAMADO DIRETO. TEM DESEJO DE IR, MAS ESTABELECE ALGUMAS CONDIÇÕES.  
ENTÃO RECEBE UMA ORDEM DIRETA.
NA DESCRIÇÃO DE JESUS O DISCIPULADO É COLOCADO ACIMA DE QUALQUER OUTRO INTERESSE HUMANO.

O TERCEIRO É UMA MISTURA DOS DOIS PRIMEIROS. QUER SEGUIR E CONSIDERA O PREÇO. 
PORÉM ANTES DE QUALQUER COISA, QUER VER SUA VIDA TERRENA DANDO CERTO!

Eu viajei para o Pará várias vezes de carro. Sempre fiz trajetos diferentes.
O objetivo da viagem era o mesmo – chegar ao mesmo lugar.
Todavia, ao tomar caminhos diferentes eu vivi, descobri, experimentei e aprendi coisas diferentes.
É isso que Jesus fez. Usou três diálogos. Usou três caminhos para chegar ao mesmo ponto: elucidar acerca da responsabilidade daquele que faz opção por segui-lo.

Os seguidores de Jesus dos dias atuais têm um comportamento muito semelhante ao dos cristãos do primeiro século: Todos querem seguir a Jesus até determinado ponto. 
E todos têm condições que limitam até onde podem se envolver no discipulado.

Os seguidores de Jesus do primeiro século tinham uma idéia do Messias: pensavam que Ele seria uma espécie de general guerreiro, que formaria um exército e restituiria o reino de Israel, lutando contra Roma e libertando os judeus do domínio.
Para eles, o reino de Deus era constituído de vitória no presente. Restituição de posses de terrenos, prosperidade financeira, conforto, igualdade social e liberdade para enriquecimento.
Estavam dispostos a seguir o Messias desde que o Messias satisfizesse suas expectativas pessoais. 
Todavia, na medida que o ministério de Jesus avança, seus seguidores aos poucos vão percebendo que o Messias não tinha planos ambiciosos para destronar os imperadores romanos e muito menos criar uma nova religião. Começaram a entender que segui-lo significava Getsêmani, Via Dolorosa e Cruz.
Todos estavam dispostos à parte boa: cura, multiplicação de pães, libertação de oprimidos, ressurreição de mortos e sermões maravilhosos.
Percebendo que Jesus não seguia pela via natural dos outros revolucionários do período, já nos dias finais de seu ministério, todos vão abandonando Jesus lentamente. Até que apenas Jesus, sozinho, enfrenta os momentos finais de sua vida.


PRIMEIRO DIÁLOGO – A RAPOSA E OS PÁSSAROS

57 E aconteceu que, indo eles pelo caminho, lhe disse um: Senhor, seguir-te-ei para onde quer que fores.
58 E disse-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.



Esse primeiro personagem é atraído para dentro da comunidade de discípulos. Ninguém o está recrutando. Mas o texto nos deixa entender que ele não entendeu direito o que esta responsabilidade acarreta!
Ele tinha boas intensões, mas ainda não tinha compreendido quais eram as exigências do Reino de Deus.
Sua ideia de discipulado ainda é muito superficial!
Ele ainda não entende que seguir Jesus significa perseguições, provações e desafiar limites.
A ideia de seguir o Filho do Homem que se apresenta com um forasteiro sem nenhuma posse, é um choque para qualquer judeu do século primeiro.


A resposta de Jesus de forma direta seria: 
"SEJAM QUAIS FOREM OS SEUS MOTIVOS, TENHA EM MENTE QUE VOCE ESTÁ SE OFERECENDO PARA SEGUIR UM LÍDER REJEITADO."


“AS RAPOSAS TÊM COVIS”

Em Lc 13.32, Jesus chama Herodes Antipas de raposa.
Por essa forma, o título de raposa passa a significar todo o poderio político e a truculência militar romana. 
Ninguém ousava criticar Roma, afinal Roma estabeleceu a paz pela força. 
Todos os dias, centenas de pessoas pagavam com a própria vida o preço por desafiar o controle de Roma sobre as nações escravizadas.

UM POVO OPRIMIDO RARAMENTE TEM PERMISSÃO DE DECLARAR PUBLICAMENTE QUE É OPRIMIDO. 
ELE PRECISA FALAR DA SUA OPRESSÃO ATRAVÉS DE SÍMBOLOS.

... VELHA RAPOSA, um símbolo sutil para se referir a Herodes.

Os romanos se sentiam a vontade em Israel. Se sentem em casa! 
Mas o verdadeiros israelitas, mesmo estando na terra que Deus os deu, não se sentem a vontade. Se sentem oprimidos dentro de sua própria casa.

Essa é a sensação que Jesus quer transmitir: os israelitas estão em Israel. Mas agora Israel é covil de Roma. Enquanto Roma se sente em casa, Israel não tem onde reclinar a cabeça.
Paralelamente, estamos no mundo que Deus criou para nós, mas a opressão é grande. 
Estamos em casa, mas a sensação de que está tudo errado com o mundo a nossa volta não nos abandona.

Enquanto Jesus for rejeitado, é impossível vivermos em plena tranquilidade.

E Jesus continua sendo rejeitado quando as pessoas partem em rota de colisão vivendo uma vida de pecado e promiscuidade. É rejeitado quando as pessoas o ignoram. É rejeitado quando as pessoas vê na igreja apenas um amuleto de sorte.

ENQUANTO JESUS FOR REJEITADO, SEUS DISCÍPULOS SERÃO REJEITADOS TAMBÉM.

Esse Cristo popular que a mídia está promovendo, me preocupa. Ele não tem nada a ver com o Jesus das Escrituras.

O que Jesus diz a esse candidato a discípulo é isso:
"SE O QUE VOCE QUER É PODER E INFLUÊNCIA, VÁ FAZER ALIANÇAS COM O PODER ROMANO. 
TODAVIA, SE VOCE QUISER ME SEGUIR, NÃO SEJA ENGANADO: O FILHO DO HOMEM SEMPRE SERÁ REJEITADO."


‘E AS AVES DO CÉU, NINHOS’

Ninho: fofinho,confortável, quentinho, coberto por penas macias e aconchegantes.

ESSA A PROPOSTA NÃO É DADA AO SEGUIDOR DE JESUS.

Ninho é símbolo do descanso intelectual, racional, lógico e filosófico que a dominação grega oferecia.
Enquanto Roma domina com espada, a Filosofia Grega domina com cultura.


QUAL O RESULTADO? O RAPAZ RESOLVEU OU NÃO SEGUIR JESUS?

Não somos informados!
A parábola é deixada em suspenso.
Não sabemos se o voluntário topou a proposta de Jesus, ou se recuou para a beirada da rua e ficou vendo as fileiras passarem.
Não sambemos se o voluntário se ingressou na banda e tomou seu instrumento.

OU FICOU A BEIRA DA ESTRADA, ATÔA NA VIDA, VENDO A BANDA PASSAR, FALANDO COISAS DE AMOR.

O texto deixa esse desafio a qualquer um de nós.
Onde nos enquadramos?
NA BEIRA DA ESTRADA OU NO CENTRO DA VONTADE DE DEUS?


O QUE APRENDEMOS COM ESSA PARÁBOLA?

O Filho do Homem não é aquela figura fantástica que geralmente os ouvintes esperam. O caminho do discipulado é um caminho de dores e de renúncia.
O candidato a discípulo não deve deixar de considerar o preço do discipulado.
O candidato a discípulo só é aceito quando decide conscientemente pagar o preço de seguir um líder rejeitado. 
Essa passagem faz eco com a afirmação de Paulo: 
2 Timóteo 3:12 - "Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos."


Quando levantamos as mãos como sinal de conversão, quer por insistência de alguém, ou por um apelo emocional, será que levamos em conta que estamos dizendo sim a um mestre que é Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, mas que na terra é rejeitado? 

Ser discípulo de Cristo é carregar no corpo o estigma dos cravos da cruz. Seremos participantes de sua eterna glória, mas na terra enfrentaremos a rejeição de sua doutrina.


Graça e Paz!

César de Aguiar
teolovida@gmail.com

Continua na A PARÁBOLA DA RAPOSA E OS PÁSSAROS, O FUNERAL E O ARADO - parte 2 

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