quinta-feira, 31 de março de 2022

AS CORDAS DIMENSIONAIS E A VISÃO DE EZEQUIEL

 “E cada qual andava para adiante de si; para onde o espírito havia de ir, iam; não se viravam quando andavam” (Ez 1.12).

As cordas dimensionais foram tangidas pelo Espírito Santo e suas vibrações sobre a face das águas conduziu o processo da criação.

Os Seres Viventes, conforme contemplados pelo profeta, seguiam sempre em frente, assim como o tempo e a expansão.

Os Seres não refaziam nada, não se viravam, não se arrependiam, não voltavam atrás. Seus movimentos eram como os ponteiros do relógio, sempre na mesma direção, na trajetória de evoluir pelo eterno recomeço da fluidez eterna.

O fim foi fixado desde o começo e o começo foi fixado no fim, ligados ponto a ponto um ao outro, como o perímetro de um círculo em expansão, como o uroborus - a serpente que engole a própria cauda.

Presos um ao outro como a chama é presa à brasa, como o feto no ventre é preso à mãe pela corda que liga o fim e o começo; e o começo ao fim.

Assim o Senhor fez! Ele é o Uno. Fora Dele não há um segundo. Antes do Um, o que contar?

O que acontecia no céu, ocultado pelo véu da realidade manifestada era replicado no mundo da matéria densa; “assim na terra como no céu”. Tudo o que se formou e que existe possui um valor relativo perfeito no mundo das ideias, postulado que nada é absoluto, senão o Eterno, o Uno.

Conforme a capacidade de entendimento do aluno, os mistérios tomam as mais variadas formas da mesma verdade eterna.

Perceba que uma pintura de Monet é interpretada pelos olhos do ignorante como um desperdício de tinta em um amontoado de borrões coloridos. Todavia aos olhos evoluídos, a percepção da mesma pintura, remete o observador a lugares, sentimentos e abstrações da profundidade da alma.

No espaço infinito que abrange todas as realidades possíveis das emanações do Criador, as milhares de possibilidades são verdades relativas reveladas segundo o nível de compreensão de cada iniciado.

Enquanto Ezequiel vê Seres Viventes, o estudioso do século XXI pode perceber as nuances das Forças Cósmicas. São visões diferentes de equivalências eternas, apresentadas em línguas dirigidas a audições diferentes. “Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça” (Mc 7.16) “em sua própria língua” (At 2.8).

“Para onde o espírito queria ir, eles iam; para onde o espírito tinha de ir; e as rodas se elevavam defronte deles, porque o espírito do ser vivente estava nas rodas” (Ez 1.20).

Ezequiel continuou a descrição da sua visão, falando de rodas e aros; uma figura de forma circular. Quem está atento ao livro imediatamente será remetido ao conceito da onda provocada pelo Pão que foi lançado sobre a face do Lago das Águas Primordiais.

O Espírito de Deus vibrando sobre as águas do lago aos pés do Trono do Altíssimo conduzia as decisões que orientavam os passos dos quatro Seres Viventes que representam as quatro forças.

“E sobre as cabeças dos seres viventes havia uma semelhança de firmamento, com a aparência de cristal terrível, estendido por cima, sobre as suas cabeças” (Ez 1.22).

Trata-se do lado superior do Lago, o verdadeiro firmamento! A face das águas aos pés do trono do Altíssimo. Esse é o lado superior do Lago das Águas Primordiais. A expressão ‘cristal terrível’ fala do intenso brilho da superfície das águas, onde a absoluta glória de Deus é refletida.

Esses super-anjos são os quatro querubins designados por Deus para guardarem e sustentarem o nosso universo. São eles que em primeira instância guardam os quatro cantos do Universo, mas também sustentam os quatro cantos da terra com suas quatro estações do ano.

Eles são a forma espiritual daquilo que a ciência chama de quatro forças fundamentais que sustentam todo o funcionamento do universo.

“E, andando eles, ouvi o ruído das suas asas, como o ruído de muitas águas, como a voz do Onipotente, um tumulto como o estrépito de um exército; parando eles, abaixavam as suas asas” (Ez 1.24).

Os Querubins responsáveis pelo funcionamento do Universo são a personalidade espiritual das Forças que comandam a máquina do cosmo. Sua área de atuação é no mundo submerso, abaixo da superfície do Lago das Águas Primordiais. Todavia, não limitados ao tempo e ao espaço, eles também fazem o contato entre o mundo da superfície do lago e o nosso universo.

Imaginem a cara de estupefação de Ezequiel! Anjos rompendo a superfície das águas do Lago de Deus, e por um momento, os sons da terra e do céu se misturando. Vozes como de muitas águas, a voz do Onipotente e o burburinho de um exército pronto para a batalha. Na mistura dos sons da eternidade com os sons do universo criado forma-se uma nova categoria de vibração que se dissipa na medida que, rompendo as águas cada vez mais profundas, através de suas ondas vão formando seres de matéria proporcionalmente mais densa que a dos seres da superfície.

Jacó viu anjos que subiam e desciam por uma escada. Anjos que faziam uma trilha entre o céu e a terra. Anjos que trafegavam nas duas dimensões: no tempo e na eternidade. Seres que, por frequentarem os dois mundos têm a habilidade de atuarem como mensageiros e controladores do princípio espiritual que espelha a realidade manifestada.

Os últimos versículos do texto do capítulo 1 de Ezequiel são os mais impressionantes.

“E ouviu-se uma voz vinda do firmamento, que estava por cima das suas cabeças; parando eles, abaixavam as suas asas. E por cima do firmamento, que estava por cima das suas cabeças, havia algo semelhante a um trono que parecia de pedra de safira; e sobre esta espécie de trono havia uma figura semelhante a de um homem, na parte de cima, sobre ele” (Ez 1:25,26).

Ezequiel continua descrevendo sua visão apresentando o trono que está acima da superfície do Mar de Cristal. De pedra de safira era a aparência do trono e sobre ele se assentava alguém que possuía o aspecto de um homem que observava tudo: O Cristo homem. O Verbo que existia desde antes da criação de todas as coisas.

Na visão do trono o profeta percebe um arco-íris no Monte da Congregação, com as mesmas sete cores que são peculiares aos arco-íris visíveis em dias de chuva no nosso planeta. “Como o aspecto do arco que aparece na nuvem no dia da chuva, assim era o aspecto do resplendor em redor. Este era o aspecto da semelhança da glória do Senhor; e, vendo isto, caí sobre o meu rosto, e ouvi a voz de quem falava” (Ez 1:28).

Na habitação de Deus, Ezequiel viu uma ligação com a habitação dos homens. Isso é um sinal do cuidado do Criador para com suas criaturas. O mesmo fenômeno que abrilhanta os céus em dias de chuva em nosso planeta é visto junto ao Trono, de onde o Livro do Tempo é contemplado.

No céu do planeta assolado pelo dilúvio, ao fazer aliança com Noé, Deus estabeleceu o significado do seu arco.

No céu da terra, o arco aponta uma flecha para o infinito, para a habitação de Deus.

O Arqueiro tencionou o arco de sete cores formando um desenho geometricamente perfeito. Ele disparou a flecha assumindo a possibilidade de errar o alvo (note que o significado literal da palavra pecado é ‘errar o alvo’). Até mesmo porque, ninguém além Dele tinha a cura para a doença do pecado. Assumiu a responsabilidade porque já estava definido que somente o sacrifício do próprio Deus teria eficácia para satisfazer Sua perfeita justiça. 

Quem está afundado nas trevas da turbidez deve tomar carona na flecha que aponta para a superfície. Na viagem rumo à consciência do Uno, haverá obrigatoriamente uma ascensão na escala da evolução. O que era realidade em tempos já vividos passa a ser compreendido como sombras.

A evolução espiritual traz consigo a percepção de que aquilo que antes era tomado por realidade, na verdade eram sombras.

A viagem sobre os lombos da flecha nos conduz a um continuado despertar, um ininterrupto estado de iluminação.

Cada movimento rumo à superfície, cada estádio percorrido, traz consigo a impressão de que fomos finalmente iluminados, e com essa impressão vem a tentação de nos envaidecermos na autovalorização.

Cuide-se de que o Eterno seja a sua única fonte de motivação. Tome cuidado com o desejo de crescimento. Se o Eterno for sua única fonte de força e dedicação, tu crescerás na beleza do amor e desejo pelo Criador. Todavia, se fizer do desejo pelo crescimento a sua motivação, tu te tornarás frio, calculista, morto pela letra e escravizado pela imensa vontade de projeção pessoal.

A flecha é uma nave e viajamos na sua carona. A maturidade alcançada pela soma dos estágios vencidos na viagem sobre flecha, nos leva a concluir com o filósofo que diz: “só sei que nada sei”, e que a plenitude da luz só será percebida quando rompermos o limite das águas, onde a consciência absoluta será alcançada após a final devastação da matéria densa.

Quem se assenta no Trono? Quem é semelhante a um homem?

O lago pertence a Ele! O universo pertence a Ele!

“Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas” (Rm 11.36).

Ele é Jesus. O Deus Vivo.

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Cesar de Aguiar

do livro Gênesis Desvendado

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