Ao fitarmos a descrição do Lago das Águas Primordiais podemos
reconhecer nele, os dois lados do espelho. O espelho perfeito e o espelho
imperfeito.
Aquele espelho borrado pelo nosso pecado e que após a nossa queda
no Jardim passou a refletir o mundo ao contrário.
O mundo perfeito é o lado do Trono de Deus - a superfície das
águas.
O lado sem nitidez é o nosso mundo que foi submerso após a
desobediência a Deus.
Após o evento catastrófico do Jardim, o mundo saiu da superfície
do lago e se afundou sob as águas do Mar de Cristal.
Na superfície das águas tudo é espiritual e tudo se sobrepõe à
materialidade.
Abaixo da superfície tudo é material e passa a ser visto a partir
do inconsciente coletivo, denominado Véu da Realidade.
Submerso às águas do Lago das Águas Primordiais, toda a visão da
Eternidade é obscurecida pela refração das imagens vistas sob as águas. O nosso
mundo é a visão do mergulhador, que de olhos abertos sob as águas olha para o
mundo exterior. Quanto mais profunda for sua aventura, maior será a obscuridade
da sua visão, até que finalmente, envolvido pela turbidez das águas, passe a
nada mais enxergar, senão a escuridão a sua volta.
Do nosso lado, a imagem do mundo real é refletida num espelho sem
nitidez. Segundo as escrituras, um espelho de bronze fundido.
Jó foi interrogado pelo próprio Deus: “pode ajudá-lo a estender os
céus, duros como espelho de bronze?” (Jó 37.18). Naturalmente a referência é a Idade do
Bronze, cerca de 3.000 a.C.
As primeiras superfícies planas construídas com a capacidade de
refletir imagens surgiram há cerca de cinco mil anos na Suméria, onde hoje é a
região do Iraque atual.
Os espelhos antigos não produziam imagens nítidas, pois eram
feitos em placas de bronze polidas com areia.
Saindo da Suméria, esses pesados espelhos de metal chegaram às
mãos dos povos gregos e romanos e a partir de então foram disseminados em
alguns países da Europa até se tornarem plenamente conhecidos em todo o
continente Europeu no final da Idade Média. Nas palavras do Engenheiro Hélio Goldestein,
da USP: “Até por volta do século 13, os espelhos eram feitos de metal polido,
ligas de prata ou bronze com dureza suficiente para aguentar o processo de
polimento mecânico e não se riscar facilmente”. Apenas no início do século 14
surgiram os primeiros espelhos de vidro desenvolvidos por artesãos da cidade de
Veneza, na Itália, que de forma brilhante desenvolveram uma liga de estanho e
mercúrio que ao ser aplicado sobre uma superfície de vidro plano, formava uma
fina camada refletora na superfície oposta do vidro.
Como ficaram conhecidos a partir de então, os espelhos venezianos
se tornaram imediatamente famosos em função da qualidade da reflexão das
imagens.
Durante muitos anos os espelhos venezianos dominaram o mercado de
espelhos. Todavia havia um grande problema no seu processo de fabricação. O
custo era extremamente alto e a produção causava problemas de saúde nos
artesãos, que se contaminavam com o mercúrio, metal pesado, altamente
cancerígeno.
Somente no século dezenove foram desenvolvidas novas técnicas para
espelhar o vidro com prata química, excluindo a necessidade do mercúrio. Essa
nova técnica, mais barata, mais simples e muito mais segura, popularizou o
mercado de espelhos por todos os países do mundo.
O espelho de bronze é o parâmetro de Jó. Afinal, aquele era o
único espelho que Jó conhecia. Um espelho sem qualidade, sem imagem nítida. Uma
perfeita metáfora do mundo visto sob a turbidez das águas. “os céus, duros como
espelho de bronze”.
Cesar de Aguiar
do livro Genesis Desvendado
Nenhum comentário:
Postar um comentário