segunda-feira, 12 de agosto de 2019

GALILEU, A INQUISIÇÃO E O CORRETO POSICIONAMENTO DA TEOLOGIA FRENTE À CIÊNCIA



A interpretação dos 11 primeiros capítulos de Genesis está longe de ser uma unanimidade entre os estudiosos da Bíblia. Na verdade, cada estudioso tem seu próprio pensamento e alguns cientistas respeitam esse texto apenas como poesia e outros como filosofia. 


E como se não bastasse essa imensa confusão interpretativa, sempre surgem novas correntes de pensamento. 


Sábios são aqueles que além de ver poesia e filosofia, enxergam também um texto científico carregado de literalidade.


O texto inicial das Escrituras trata da criação do universo material até o estabelecimento do mundo pós-diluviano. Esse texto é certamente o bloco de interpretação mais complicado de todas as Escrituras e definitivamente um dos mais ricos.


Alguns liberalistas atuais consideram esse bloco das Escrituras um mito e a lacuna entre ciência e fé só vai se alargando!

O erro é pensar que fé e ciência tratam de assuntos diferentes. O erro é pensar que o cientista tem que se libertar da influência da teologia para se dedicar à pesquisa sem a suposta pressuposição de crendices. Também é errado pensar que aqueles que professam a fé em Deus devem considerar desnecessário o trabalho dos teólogos que se debruçam sobre a solução do paradoxo entre fé e ciência. 


O caos interpretativo de Gênesis está intimamente ligado à preguiça e ao preconceito e é exatamente a preguiça intelectual e o preconceito religioso que se tornaram o pai e a mãe da ignorância tanto de cientistas quanto de teólogos.

É a busca por um Cristianismo transcendente, perseguidor do entendimento da natureza de Deus que deve ser motivação para a busca do conhecimento.

Cristo está além das paredes do templo físico e o Evangelho deve permear todo o conhecimento humano. 


O pensamento da filosofia, da química, da biologia, da física e da astrofísica deve ser impactado pelo conhecimento da natureza e os propósitos do Criador, afinal tudo que existe, existe porque Deus assim o fez. 


Não podemos nos enclausurar em uma teologia de portas fechadas, antes devemos abrir a porta para agregar novas descobertas e entender que a sutil verdade das Escrituras nos é revelada através de camadas, e que a profundidade do entendimento nos espera na próxima investida.

A escalada do conhecimento se faz por uma escada infinita, tão ilimitada quanto a infinita sabedoria do Criador. 


Podemos nos deleitar em interpretar o Apocalipse a partir das novas fotos do Hublle. Podemos compreender a missão do profeta Elias a partir do deslocamento no espaço tempo, segundo a Relatividade Geral de Einstein. Podemos entender a teologia de Paulo a partir do Princípio da Incerteza de Heisenberg.


Em 1616 a Igreja (Tribunal do Santo Ofício) pronunciou-se contra a Teoria Heliocêntrica que afirmava que o Sol era o centro imóvel do Universo. Segundo a dogmática do cristianismo de então, a terra era o centro do universo e tudo o mais se movia em torno dela. 


Para a igreja daquela época o cientista Galileu Galilei estava teologicamente errado e, por seus pensamentos, em 1642, morreu condenado pela Igreja Católica. Após sua morte todas as suas obras foram censuradas e proibidas.

Naquele mundo governado pela vaidade religiosa, a igreja usava textos bíblicos para racionalizar acerca de assuntos científicos e não permitia o uso da metodologia científica para comprovação de qualquer coisa que segundo sua conveniência fosse ruim para os negócios da igreja.


Para combater a teoria de Galileu que dizia que a terra girava em torno do sol, os religiosos daquele tempo usavam o seguinte texto bíblico: “Digam entre as nações: O Senhor reina! Por isso firme está o mundo, e não se abalará, e ele julgará os povos com justiça” (Sl 96:10). Esse era o texto predileto pelos inimigos da ciência de Galileu.


Como outra evidência a igreja da época apontava para o evento em que Josué ordenou que o sol se detivesse no meio do céu. Segundo o argumento da igreja, a Bíblia como texto inerrante, deixava claro que era o sol que se movia ao redor da terra, caso contrário a ordem de Josué deveria ter sido dada à terra e não ao sol.


Se pensarmos dentro das limitações espaciais e fundamentados numa interpretação literal a igreja daquele tempo estava com a razão!

Ao afirmar que era a terra se movia, para aquela Igreja, Galileu era um herege de fato! 


Todavia o seu telescópio provou o contrário! 


O próprio Galileu queria separar ciência de religião e em própria defesa pronunciava que “as Escrituras nos dizem como ir para o céu, não como estão indo os céus”. Para ele a igreja deveria ensinar as pessoas a como ir para o céu e que deixassem a ciência em paz, afinal a ciência queria mostrar apenas “como estão indo os céus”.


O impasse entre Galileu e Igreja durou centenas de anos. Esse episódio teve seu fim em 1992 quando o Vaticano se retratou publicamente aceitando como correta as descobertas de Galileu.

Finalmente a igreja deu a mão à palmatória. Todavia demorou demais para pedir perdão pelo assassinato de um dos maiores cientistas da história da humanidade.


Que isso sirva de aviso aos estudiosos de ontem e de hoje: nem sempre as Escrituras devem ser interpretadas de forma literal. 


Cabe ao exegeta usar a correta ferramenta de hermenêutica para perseguir o significado real do texto. Para cada texto cabe a sensibilidade de escolher a correta ferramenta ou até várias ferramentas hermenêuticas.


Acerca do evento de Josué, podemos virar essa página interpretando o texto de forma equilibrada, pois até hoje, ao nos referirmos ao início e ao fim de um dia dizemos que “o sol nasceu” e “o sol se pôs”, mesmo sabendo que é a terra que se move e não o sol! Uma simples questão do uso coloquial das palavras.

Desde os tempos de Salomão, essa forma de se referir ao dia e à noite não mudou muito! “O sol se levanta e o sol se põe, e depressa volta ao lugar de onde se levanta” (Ec 1.5).


A hermenêutica bíblica deve fornecer as ferramentas a serem usadas para equilibrar a teologia com a descoberta irrefutável de Galileu e com todas as descobertas científicas efetivamente comprovadas.


Se a Bíblia tem texto para mostrar uma terra imóvel no espaço, ela também tem texto para mostrar o contrário: “Ele transporta montanhas sem que elas o saibam, e em sua ira as põe de cabeça para baixo” (Jó 9.5). Esse texto nos apresenta uma terra solta girando no espaço.


No primeiro momento, novas descobertas científicas sempre chocam os conceitos da teologia, mas não deveria ser assim. Afinal, se a ciência é verdadeira, certamente vai se equilibrar com o Espírito das Escrituras.

Cabe ao exegeta ter paciência para novamente se debruçar sobre a Palavra e avaliar a nova descoberta científica. 


As Escrituras nos motivam a avaliar as profecias (1Co 14:29), então, que façamos o mesmo com as novas descobertas da ciência. Que sejam julgadas pela marreta da Palavra de Deus.


Condenação sem escrutínio é sinal de preguiça intelectual e intolerância religiosa. Todavia receber uma informação e não julgar sua veracidade diante da Palavra de Deus, também é uma forma errada de se viver a fé (1Jo 4:1).

Talvez nunca iremos chegar em um consenso ou mesmo na construção da teoria do tudo. O fato esmagador é que nossa mente nunca alcançará a mente de Deus. Todavia a certeza de se não alcançar a plenitude não deve ser motivo para não caminharmos na direção do conhecimento dos mistérios da criação.

O deleite do estudioso é avançar na interpretação teológica e se debruçar sobre as Escrituras filtrando toda ciência do mundo, tendo a Palavra como irrefutável sustentáculo de todo conhecimento e verdade. 


Convém ao estudioso saber que a “água que é demasiadamente pura não tem peixe”. Esse é o trabalho do teólogo: lançar redes em águas profundas e pescar os melhores peixes. Saber que toda a água é suja, mas a Palavra de Deus é filtro!


Ciência e fé não devem se contradizer. Devem se completar!


Que algo fique claro, e nisso todos concordamos: Não sabemos direito como o universo foi criado, mas já temos certeza do porquê o universo veio a existir.

A missão da teologia é se ocupar com o “Quem” e o “Porquê”, e a missão da ciência é se ocupar do “Quando” e o “Como”.


É dessa forma que procuramos reatar o casamento entre a ciência e a fé.

“Pois Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele seja a glória para sempre! Amém” (Rm 11.36).

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Extraído do livro GENESIS DESVENDADO

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