A interpretação dos 11 primeiros capítulos de Genesis está longe de
ser uma unanimidade entre os estudiosos da Bíblia. Na verdade, cada estudioso
tem seu próprio pensamento e alguns cientistas respeitam esse texto apenas como
poesia e outros como filosofia.
E como se não
bastasse essa imensa confusão interpretativa, sempre surgem novas correntes de
pensamento.
Sábios são
aqueles que além de ver poesia e filosofia, enxergam também um texto científico
carregado de literalidade.
O texto inicial
das Escrituras trata da criação do universo material até o estabelecimento do
mundo pós-diluviano. Esse texto é certamente o bloco de interpretação mais
complicado de todas as Escrituras e definitivamente um dos mais ricos.
Alguns
liberalistas atuais consideram esse bloco das Escrituras um mito e a lacuna
entre ciência e fé só vai se alargando!
O erro é pensar que
fé e ciência tratam de assuntos diferentes. O erro é pensar que o cientista tem
que se libertar da influência da teologia para se dedicar à pesquisa sem a
suposta pressuposição de crendices. Também é errado pensar que aqueles que
professam a fé em Deus devem considerar desnecessário o trabalho dos teólogos
que se debruçam sobre a solução do paradoxo entre fé e ciência.
O caos
interpretativo de Gênesis está intimamente ligado à preguiça e ao preconceito e
é exatamente a preguiça intelectual e o preconceito religioso que se tornaram o
pai e a mãe da ignorância tanto de cientistas quanto de teólogos.
É a busca por um
Cristianismo transcendente, perseguidor do entendimento da natureza de Deus que
deve ser motivação para a busca do conhecimento.
Cristo está além
das paredes do templo físico e o Evangelho deve permear todo o conhecimento
humano.
O pensamento da
filosofia, da química, da biologia, da física e da astrofísica deve ser
impactado pelo conhecimento da natureza e os propósitos do Criador, afinal tudo
que existe, existe porque Deus assim o fez.
Não podemos nos
enclausurar em uma teologia de portas fechadas, antes devemos abrir a porta
para agregar novas descobertas e entender que a sutil verdade das Escrituras
nos é revelada através de camadas, e que a profundidade do entendimento nos
espera na próxima investida.
A escalada do
conhecimento se faz por uma escada infinita, tão ilimitada quanto a infinita
sabedoria do Criador.
Podemos nos
deleitar em interpretar o Apocalipse a partir das novas fotos do Hublle.
Podemos compreender a missão do profeta Elias a partir do deslocamento no
espaço tempo, segundo a Relatividade Geral de Einstein. Podemos entender a
teologia de Paulo a partir do Princípio da Incerteza de Heisenberg.
Em 1616 a Igreja
(Tribunal do Santo Ofício) pronunciou-se contra a Teoria Heliocêntrica que afirmava
que o Sol era o centro imóvel do Universo. Segundo a dogmática do cristianismo
de então, a terra era o centro do universo e tudo o mais se movia em torno
dela.
Para a igreja
daquela época o cientista Galileu Galilei estava teologicamente errado e, por
seus pensamentos, em 1642, morreu condenado pela Igreja Católica. Após sua
morte todas as suas obras foram censuradas e proibidas.
Naquele mundo
governado pela vaidade religiosa, a igreja usava textos bíblicos para
racionalizar acerca de assuntos científicos e não permitia o uso da metodologia
científica para comprovação de qualquer coisa que segundo sua conveniência
fosse ruim para os negócios da igreja.
Para combater a
teoria de Galileu que dizia que a terra girava em torno do sol, os religiosos
daquele tempo usavam o seguinte texto bíblico: “Digam entre as nações: O
Senhor reina! Por isso firme está o mundo, e não se abalará, e ele julgará os
povos com justiça” (Sl 96:10). Esse era o texto predileto pelos inimigos da
ciência de Galileu.
Como outra
evidência a igreja da época apontava para o evento em que Josué ordenou que o
sol se detivesse no meio do céu. Segundo o argumento da igreja, a Bíblia como
texto inerrante, deixava claro que era o sol que se movia ao redor da terra,
caso contrário a ordem de Josué deveria ter sido dada à terra e não ao sol.
Se pensarmos
dentro das limitações espaciais e fundamentados numa interpretação literal a
igreja daquele tempo estava com a razão!
Ao afirmar que
era a terra se movia, para aquela Igreja, Galileu era um herege de fato!
Todavia o seu
telescópio provou o contrário!
O próprio
Galileu queria separar ciência de religião e em própria defesa pronunciava que “as
Escrituras nos dizem como ir para o céu, não como estão indo os céus”. Para
ele a igreja deveria ensinar as pessoas a como ir para o céu e que deixassem a
ciência em paz, afinal a ciência queria mostrar apenas “como estão indo os
céus”.
O impasse entre
Galileu e Igreja durou centenas de anos. Esse episódio teve seu fim em 1992
quando o Vaticano se retratou publicamente aceitando como correta as
descobertas de Galileu.
Finalmente a
igreja deu a mão à palmatória. Todavia demorou demais para pedir perdão pelo
assassinato de um dos maiores cientistas da história da humanidade.
Que isso sirva
de aviso aos estudiosos de ontem e de hoje: nem sempre as Escrituras devem ser
interpretadas de forma literal.
Cabe ao exegeta
usar a correta ferramenta de hermenêutica para perseguir o significado real do
texto. Para cada texto cabe a sensibilidade de escolher a correta ferramenta ou
até várias ferramentas hermenêuticas.
Acerca do evento
de Josué, podemos virar essa página interpretando o texto de forma equilibrada,
pois até hoje, ao nos referirmos ao início e ao fim de um dia dizemos que “o
sol nasceu” e “o sol se pôs”, mesmo sabendo que é a terra que se move e não o
sol! Uma simples questão do uso coloquial das palavras.
Desde os tempos
de Salomão, essa forma de se referir ao dia e à noite não mudou muito! “O sol
se levanta e o sol se põe, e depressa volta ao lugar de onde se levanta” (Ec
1.5).
A hermenêutica
bíblica deve fornecer as ferramentas a serem usadas para equilibrar a teologia
com a descoberta irrefutável de Galileu e com todas as descobertas científicas
efetivamente comprovadas.
Se a Bíblia tem
texto para mostrar uma terra imóvel no espaço, ela também tem texto para
mostrar o contrário: “Ele transporta montanhas sem que elas o saibam, e em
sua ira as põe de cabeça para baixo” (Jó 9.5). Esse texto nos apresenta uma
terra solta girando no espaço.
No primeiro
momento, novas descobertas científicas sempre chocam os conceitos da teologia,
mas não deveria ser assim. Afinal, se a ciência é verdadeira, certamente vai se
equilibrar com o Espírito das Escrituras.
Cabe ao exegeta
ter paciência para novamente se debruçar sobre a Palavra e avaliar a nova
descoberta científica.
As Escrituras
nos motivam a avaliar as profecias (1Co 14:29), então, que façamos o mesmo com
as novas descobertas da ciência. Que sejam julgadas pela marreta da Palavra de
Deus.
Condenação sem
escrutínio é sinal de preguiça intelectual e intolerância religiosa. Todavia
receber uma informação e não julgar sua veracidade diante da Palavra de Deus,
também é uma forma errada de se viver a fé (1Jo 4:1).
Talvez nunca
iremos chegar em um consenso ou mesmo na construção da teoria do tudo. O fato
esmagador é que nossa mente nunca alcançará a mente de Deus. Todavia a certeza
de se não alcançar a plenitude não deve ser motivo para não caminharmos na
direção do conhecimento dos mistérios da criação.
O deleite do
estudioso é avançar na interpretação teológica e se debruçar sobre as
Escrituras filtrando toda ciência do mundo, tendo a Palavra como irrefutável
sustentáculo de todo conhecimento e verdade.
Convém ao
estudioso saber que a “água que é
demasiadamente pura não tem peixe”. Esse é o trabalho do teólogo: lançar
redes em águas profundas e pescar os melhores peixes. Saber que toda a água é
suja, mas a Palavra de Deus é filtro!
Ciência e fé não
devem se contradizer. Devem se completar!
Que algo fique
claro, e nisso todos concordamos: Não sabemos direito como o universo foi
criado, mas já temos certeza do porquê o universo veio a existir.
A missão da
teologia é se ocupar com o “Quem” e o “Porquê”, e a missão da ciência é se
ocupar do “Quando” e o “Como”.
É dessa forma que
procuramos reatar o casamento entre a ciência e a fé.
“Pois Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. A
Ele seja a glória para sempre! Amém” (Rm 11.36).
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Extraído do livro GENESIS DESVENDADO
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GÊNESIS DESVENDADO: A revelação dos profundos mistérios da criação estudados em consonância com a ciência e a tradição judaica.
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