terça-feira, 27 de setembro de 2016

JACÓ, JESUS E UMA VIAGEM NO TEMPO


“Porque tenho visto Deus face a face, e a minha vida foi preservada...” (Gn 32. 28-31).


Esta declaração de Jacó é um testemunho oriundo de uma constatação muito complexa.
O Ser com que quem Jacó lutou não é reconhecido como um Anjo, mas como o próprio Deus. As palavras do Patriarca é uma evidência cabal de que Jacó reconheceu que aquele Ser não se tratava de um Anjo, mas do próprio Senhor da Criação.

Essa é uma questão de alta complexidade e mais uma vez as Escrituras parecem se contradizer, pois noutro lugar se diz: “ninguém jamais viu a Deus”. Todavia a suposta contradição é apenas aparente pois existe na profundidade da interpretação um sentido mais inteligente, interessante e revelador.
Os fatos narrados pelo texto bíblico de Genesis capítulo 32 levantam uma complexa questão. Entendemos pelo texto que o Ser Maravilhoso com quem Jacó travou uma luta era o próprio Deus manifestado em forma humana.
Sabemos de forma notória que Deus se manifestou em forma humana somente 1 vez na história, e foi na pessoa do Messias. Dessa forma concluímos que Jacó só poderia ter lutado com o próprio Jesus Cristo.

É nesse ponto que as dificuldades começam a aparecer: sabemos que milhares de anos separam Cristo de Jacó! Então, como é que os dois estavam juntos no mesmo plano físico e temporal. Como Jacó se encontrou com Jesus se eles são de tempos diferentes?
Essa é a pergunta que não quer calar! Um questionamento que exige uma resposta direta e convincente. E com toda certeza responderemos a essa questão nesse artigo, Todavia existe outra pergunta de igual relevância! 

Vamos a ela primeiro!

Porque o Deus Todo Poderoso do Universo teria que travar uma luta corporal com um homem comum e ainda por cima, considerar a luta árdua?

Qual o sentido de tudo isso!??

Vejamos!!!

A história da luta de Jacó com Deus não pode ser um fato isolado e sem sentido! Esse evento épico evoca o sentido mais profundo da Mensagem da Graça.
O Evangelho da Graça tem como ênfase doutrinária a história de Deus Criador se reduzindo à forma de sua criatura humana e se limitando ao espaço e ao tempo com a finalidade de redimir todas as coisas em Si mesmo e para Si mesmo.

Na história da luta de Jacó com Deus devemos observar um fato curioso. Para finalizar a luta Deus feriu a coxa de Jacó e mudou definitivamente sua forma de caminhar.  “E saiu-lhe o sol, quando passou a Peniel; e manquejava da sua coxa” (Gn 32.31)
Muito sugestivo pensarmos na metáfora de que no relacionamento do homem com Deus, Deus sempre vai mudar a forma como esse homem caminha. Mas o significado do texto vai além da necessidade de se produzir uma metáfora de efeito existencial.

Na história de Deus com Jacó, Deus fere o homem na carne. E esse ferimento é aplicado como resultado de um combate físico. Deus pessoalmente fere o corpo do homem.

Na história de Jesus com a humanidade foram os homens que feriram Jesus.
Deus feriu a Jacó e os homens feriram a Deus, no corpo físico, tal qual a compensação “olho por olho e dente por dente”.

Porque Deus feriu Jacó. Os filhos de Jacó feriram a Deus. Lei da retribuição.

A humanidade condenou a Cristo como um criminoso qualquer e dessa forma o homem feriu a Deus na carne, como resultado de uma tortura gratuita, onde o Todo Poderoso não ofereceu nenhuma forma de resistência. Deus permiti-se ferir.
O Deus então ferido, após sua ressurreição dentre os mortos, mantêm no seu corpo as marcas das feridas com que foi ferido na casa de seus “amigos”. 
E assim ele foi assunto aos céus: em carne e com as feridas que o identificam como Jesus Cristo, Homem. Tem um homem no céu que irá manter por toda a eternidade a glória das feridas com as quais foi ferido. 
Para que os santos ao olharem para Ele saibam que o resultado daquelas feridas é a gloria da eternidade, e mais: as feridas são o testemunho vivo de que: "eu estou aqui, mas não mereço estar aqui, afinal, aquelas feridas foi eu quem causou". Graça escandalosa, testemunhando por toda a eternidade.

Zacarias 13.6 – “E se alguém lhe disser: Que feridas são estas nas tuas mãos? Dirá ele: São feridas com que fui ferido em casa dos meus amigos.”

João 20.26 -28  - “Passados oito dias, os discípulos estavam outra vez juntos, e nessa ocasião encontrava­se Tomé também presente. As portas estavam fechadas mas, tal como antes, Jesus apareceu no meio deles e disse: “Paz seja convosco!” Depois disse a Tomé: “Mete o dedo nas feridas das minhas mãos, e a mão no meu lado. Não continues descrente. Acredita!
 “Meu Senhor e meu Deus!”, exclamou Tomé.

Até aqui entendemos o porque da luta, mas ainda resta uma questão!

Como Jacó e Jesus estavam no mesmo lugar e no mesmo tempo?

A explicação está contida na confirmação de outra “sumida estratégica” de Jesus. 
Dessa vez o Mestre se ausentou de seus discípulos e com a explicação de se retirar para seu momento de solidão, Jesus viajou ao passado e lutou uma noite inteira com o patriarca Jacó.
Notemos a declaração de Jacó: 
“Porque tenho visto Deus face a face, e a minha vida foi preservada”. 
Essa declaração é assustadora e reveladora e os fatos apontam para uma única explicação que pode fazer sentido no equilíbrio das Escrituras. Trata-se de uma explicação que é muito mais teológica que científica na mesma proporção que é muito mais científica do que teológica.

Pessoalmente eu estou convencido e duvido que um anjo teria coragem de aceitar ser confundido com o Criador. Um anjo não aceitaria essa gloria para sí.
Os anjos temem serem confundidos com Deus, pois sabem que Deus não divide sua glória com nada e ninguém.
Veja o caso de Zacarias. O anjo foi logo se apresentando como anjo (Lc 1.19).  E no caso de Maria, o Evangelista Lucas se incumbiu de dizer exatamente quem era o personagem que iria falar com a mãe de Jesus (Lc 1.26).

Todavia o Ser Maravilhoso que lutou com Jacó aceitou ser chamado de Deus e se apresentou de forma provocadora, ao estilo do próprio Jesus: “Jacó lhe perguntou, e disse: Dá-me, peço-te, a saber o teu nome. E disse: Por que perguntas pelo meu nome?” (Gn 32.29).
Jesus gostava dessa abordagem estilística: “Quem os homens dizem que sou?” (Mc 8.27). Estilos não provam nada, mas atinam o raciocínio quando a revelação de uma verdade inquietante nos atropela.


Enfim, Jesus viajou ao passado e usou seu encontro com Jacó para relativizar o relacionamento do humano com o divino. 

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M.e. César de Aguiar
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