quinta-feira, 21 de novembro de 2024

UM DIA QUINTO


E disse Deus: Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente; e voem as aves sobre a face da expansão dos céus. E Deus criou as grandes criaturas marinhas, e todo o réptil de alma vivente que as águas abundantemente produziram conforme as suas espécies; e toda a ave de asas conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom. E Deus os abençoou, dizendo: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei as águas nos mares; e as aves se multipliquem na terra. E foi a tarde e a manhã, o dia quinto” (Gn 1.20-23).

 

O quinto dia da criação iniciou-se aproximadamente a 450 milhões de anos e preparou a alvorada do dia seguinte há cerca de 200 mil anos.

Os insetos e as sementes se desenvolveram primeiro, e depois de aproximadamente 40 milhões de anos surgiram os primitovos ancestrais da vida animal, os anfíbios que abriram o caminho para o aparecimento dos répteis – ancestrais diretos dos dinossauros, 60 milhões de anos depois.

Os dinossauros foram soberanos sobre a Terra por 165 milhões de anos, dominando o planeta a partir do seu surgimento há 230 milhões de anos e se extinguindo há 65 milhões. Conviveram não pacificamente com os dinossauros os primeiros mamíferos surgidos há 200 milhões de anos e as aves há aproximadamente 150 milhões de anos.

É nesse período definitivo para o planeta que aconteceram os eventos descritos no quinto dia.

 

A ÁGUA NO CENTRO DO ENTENDIMENTO

 

A água está no centro de todas as cosmogonias mais importantes das tradições religiosas da humanidade.

Para a religião egípcia, babilônica, judaica, hindu, e tantas outras, a água sempre é apresentada como fonte da vida material.

Não é diferente na concepção cristã, que vê a água sob a mesma perspectiva judaica, e bem mais! Na doutrina cristã a água é carregada de significado e de um poderoso simbolismo místico. O cristão nasce “da água e do espírito” (Jo 3.5) e em razão do seu arrependimento e escolha racional de mudança de vida, se submente ao sacramento do batismo com água.

Para o fiel religioso e místico, a água é muito mais que uma composição química de hidrogênio e oxigênio. Ela é o elemento que marca definitivamente o primeiro passo da caminhada cristã apelando para significados cada vez mais profundos.

O gelo e o vapor não é água, embora os três estados físicos sejam quimicamente a mesma coisa. O gelo é água dura e o vapor é água que voa. Um é pesado, o outro é mais leve que o ar. O gelo é água que boia na água. O vapor é um estado que a água não pode conter. Tudo serve como uma metáfora profunda sobre o caráter misterioso da Trindade Divina.

Aquele que que não tem preconceito de conhecer as tradições religiosas percebe na água um caráter místico e metafísico, digno de ser meticulosamente estudado.

Os eventos milagrosos da vida de Jesus passam a ter significados profundos quando compreendemos as implicações simbólicas de algumas de suas ações. Acalmar a tempestade e o mar ou mesmo andar sobre as águas indica domínio sobre o mundo dos submersos no Oceano das Águas Primordiais. Indica também seu senhorio sobre o agente que produziu a vida no quinto dia da criação.

Certamente no simbolismo dos tres estados da água e traçando um paralelo com as Tres Personalidades da Trindade, Jesus é o gelo que pode ser esmagado, como Ele mesmo foi em sua crucificação. O gelo que boia e não se afunda quando anda sobre as águas de um mar revoltoso.

 

Deus conferiu à água o poder da gestação das sementes que chegaram ao nosso planeta no transcorrer do terceiro dia. Sob a ordem da voz do Criador a água gerou a vida, pois assim como a Terra, sob Deus a água também é autônoma.

As águas que estão acima do céu visível é o ovário do universo e dele procedeu em meio a intenso louvor a produção das sementes que ao chegarem ao nosso planeta foram responsáveis pela formação da vida: “Que os mais altos céus o louvem e também as águas que estão acima do céu” (Sl 148.4).

A ciência aponta que nesse período geológico aconteceu o aparecimento dos seres multicelulares especificamente nas águas dos mares. Aconteceu a fantástica multiplicação dos seres aquáticos e sua espetacular evolução para forma de aves.

Nadar e voar são atividades similares, pois acontecem em ambientes adequados onde o peixe ou a ave pode se movimentar livremente para todas as direções.

O homem, limitado pelo solo e pela ausência de asas ou a capacidade de sobreviver sem oxigênio no estado gasoso, não é autossuficiente para, como os peixes e as aves, cada um em seu domínio, ser livre para se movimentar em todas as direções espaciais.

Os peixes passaram a habitar as densas águas de baixo, enquanto as aves passaram a dominar as vaporosas águas de cima. Os peixes ‘voando com suas nadadeiras’ e as aves ‘nadando com suas asas’.

Os mares e os oceanos do nosso planeta ainda permanecem pouco conhecidos e pouco explorados pela humanidade. Sabemos mais sobre o espaço sideral do que sobre o fundo dos oceanos.

 

O FANTÁSTICO MUNDO SUBMARINO

 

A existência de grandes criaturas marinhas é citada em vários textos das Escrituras, deixando em aberto a possibilidade para elaboração de teorias (às vezes conspiratórias), acerca de uma civilização de seres fantásticos (ou não tão fantásticos assim!), vivendo ocultados pelas profundezas das fossas submarinas.

O Leviatã, um ser incrível apontado como possuidor de mais de uma cabeça (Sl 74.14), Raabe, um ser marinho poderoso sempre citado por sua conexão com a altivez e o orgulho, sendo uma metáfora para o reino dos faraós (Sl 89.10; Is 51.9) e o Tanin descrito como o dragão do mar (Is 27.1).

Segundo o Zohar, o Tanin (ou Hatanyn) foi a serpente (ou dragão) que surgiu a partir do cajado que Arão jogou ao chão diante de faraó e seus feiticeiros.

Segundo o Êxodo, Moisés pediu que Arão jogasse o cajado na frente do Faraó. O cajado de Arão se transformou em ‘tanin’ e devorou os cajados dos feiticeiros do Egito que haviam se transformado em ‘taninim’. A palavra ‘tanin’ em árabe, idioma muito próximo ao aramaico, significa dragão.

Segundo as Escrituras é inegável a existência de seres fantásticos ainda não catalogados pela zoologia.

Em muitas culturas primitivas esses seres incríveis são citados e aceitos como criaturas reais. Todavia, para a displicente sociedade moderna a citação desses seres é mera mitologia, afinal a moderna sociedade pensa que por viver na era tecnológica, é sabedora dos profundos mistérios do mundo e mesmo sabendo quase nada acerca dos mares, o homem sorri e diz que a Bíblia conta histórias de fantasia. Intitula de fantasia aquilo que não possuem propriedade científica para refutar.

O crente sabe o mais importante: as grandes criaturas marinhas, por mais assustadoras que sejam, estão sob o domínio de Deus, existindo como ferramenta para servir os sábios propósitos do Criador.

Jonas experimentou o ‘ventre’ de uma criatura que possuía em seu interior a capacidade de preservar a vida humana por mais de dois dias completos. No livro de Jonas (1:17) o texto bíblico afirma que o profeta fora engolido por um ‘grande peixe’. Já no Novo Testamento (Mt 12.40) lemos que Jonas fora engolido por uma ‘baleia’. Acontece que a expressão hebraica traduzida como ‘baleia’, no original significa: ‘grande monstro marinho’. A palavra grega não significa ‘baleia’, mas ‘criatura marítima’, podendo também significar, ‘algum grande peixe’. Isso não significa que o grande peixe que engoliu Jonas não tenha sido uma baleia! A certeza que temos é que não se tratava de nenhum dos outros grandes animais marinhos citados nas Escrituras, pois, esse grande peixe é meticulosamente distinguido da ‘serpente’ do mar (Am 9:3), que também é chamada "Leviatã" (Is 27:1) e também do ‘monstro das profundezas’ (Jó 7:12; Sl 74:13; Ez 32:2) e de todas as outras.

O ‘grande peixe’ da história de Jonas é entre outras possibilidades uma das “grandes criaturas marinhas” citadas no texto do quinto dia da criação.

 

A PRIMEIRA BÊNÇÃO

 

No fim do quinto dia temos a primeira benção que Deus liberou para nosso mundo e os primeiros abençoados são os animais aquáticos e as aves.

Trata-se da bênção da procriação, um poder que Deus estendeu posteriormente aos animais e, depois, à humanidade. “E Deus os abençoou, dizendo: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei as águas nos mares; e as aves se multipliquem na terra”. A procriação é uma ordem direta com caráter de bênção. Por isso a natureza criada luta pela sobrevivência e pela perpetuação da espécie. A natureza está obedecendo à mais primitiva ordem de Deus: “frutificai e multiplicai-vos”.

A reprodução ou o poder de se reproduzir, seguido do direito de nascer é a primeira bênção anunciada por Deus. Que os homens do nosso tempo entendam que o milagre do Nascimento deve ser respeitado, admirado e aceito como um ato de generosidade do Criador.

 

TODOS OS DIAS DA CRIAÇÃO SE RESUMEM EM JESUS

 

O primeiro dia da criação, em função da invenção da luz, é uma metáfora do nascimento histórico do Senhor, pois em Cristo, a luz de Deus invadiu o mundo dos homens.

O segundo dia é a hora da grande batalha, por isso nos remete à morte de Cristo e à guerra travada entre a luz e as trevas.

O terceiro dia é a correspondência do ministério terreno de Jesus, focado na revelação do Evangelho, conhecido como a Boa Semente. Se no terceiro dia da criação as sementes foram produzidas na imensidão do espaço, no ministério de Cristo, o terceiro dia é a semente do céu que faz brotar filhos para Deus.

Perceba que a morte de Jesus (segundo dia) acontece na correspondência dos dias da criação, antes de seu ministério terreno (terceiro dia). A sequência parece desfocada da cronologia temporal, todavia assim se deu a história da Redenção! Jesus é o Cordeiro morto antes da fundação do mundo, ou seja, sua morte aconteceu fora do tempo, antes da invenção do relógio. Antes de realizar seu ministério terreno, sua morte já havia satisfeito a justiça de Deus. Jesus morreu muito antes que o tempo fosse inventado, muito antes de ter nascido no mundo dos homens.

Assim como o sol rompe a cortina de poeira cósmica e beija a face da terra, também o quarto dia da criação é uma representação da ressurreição e ascensão de Cristo – é quando o Sol da Justiça emerge de sua humilhação e ocultação na terra para ocupar seu lugar no Céu dos Céus – no centro de controle dos mundos criados. O Sol do mundo físico parte do alto para baixo; o Sol da Justiça desce à terra para sua humilhação, todavia por sua vitória se projeta de baixo para cima.

Chegamos ao quinto dia da criação, que é a revolução das águas. Esse dia representa a vinda do Espírito Santo (caracterizado por aquele que repousa sobre as águas ativando a evolução da vida).

Com a vinda do Consolador a história da Igreja de Cristo pôde começar. Sugestivamente em seu ministério, Jesus chamou seus discípulos de “pescadores de homens” (Mt 4.19).

Na cronologia da criação entendemos que as aves um dia foram peixes. Do mar para os céus. De peixes para aves. Aqueles que estavam mergulhados no Lago das Águas sob o trono do Altíssimo, ganham ‘asas’ e voam ao encontro do Senhor, nos ares. “Logo em seguida, nós, os que estivermos vivos sobre a terra, seremos arrebatados como eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E, assim, estaremos com Cristo para sempre!” (1Ts 4.17). Da água para o céu. Do mundo manifestado para o mundo das ideias. Da densidade das águas de baixo para a liberdade das águas de cima.

O quinto dia da criação fala da história da igreja. E o sexto dia sobre o que falará? Naturalmente respondemos que, se a obra da criação de Deus está conectada com a obra de recriação de todas as coisas, o sexto dia fala da redenção do homem na parousia, o estado perfeito de todas as coisas.

No sexto dia da criação Deus formou o homem. Entenda isso: Deus forma, o diabo deforma, a igreja reforma, mas somente Cristo transforma. No sexto dia da obra de Cristo o fiel irá receber um novo corpo pela ressurreição e ser ascendido a níveis superiores de realidade.

Vem a manhã, a tarde e a noite, e o sétimo dia está à espera da igreja, que viverá a eternidade do descanso do Criador, onde o passado e o futuro serão cristalizados em um eterno presente.

É certo que o sublime relógio irá soar a hora final dos mundos criados pelo Absoluto Senhor do Universo. Aquele que permanece incompreensível às inteligências finitas manifestará mais uma pequena fagulha do seu poder; e nessa hora misteriosa conheceremos mais uma impressão do Pensamento Divino, a manifestação do Logos.  O que nos espera é mencionado de forma sublime pelo Apóstolo Paulo. O maior filósofo do cristianismo não conseguiu ocultar seu deslumbramento ao escrever:

"Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam" (1 Co 2:9).



Cesar de Aguiar


teolovida@gmail.com


retirado do livro CRIAÇÃO DESVENDADA

 

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