E disse Deus:
Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente; e voem as aves sobre
a face da expansão dos céus. E Deus criou as grandes criaturas marinhas, e todo
o réptil de alma vivente que as águas abundantemente produziram conforme as
suas espécies; e toda a ave de asas conforme a sua espécie; e viu Deus que era
bom. E Deus os abençoou, dizendo: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei as águas
nos mares; e as aves se multipliquem na terra. E foi a tarde e a manhã, o dia
quinto” (Gn 1.20-23).
O quinto
dia da criação iniciou-se aproximadamente a 450 milhões de anos e preparou a
alvorada do dia seguinte há cerca de 200 mil anos.
Os insetos
e as sementes se desenvolveram primeiro, e depois de aproximadamente 40 milhões
de anos surgiram os primitovos ancestrais da vida animal, os anfíbios que
abriram o caminho para o aparecimento dos répteis – ancestrais diretos dos
dinossauros, 60 milhões de anos depois.
Os
dinossauros foram soberanos sobre a Terra por 165 milhões de anos, dominando o
planeta a partir do seu surgimento há 230 milhões de anos e se extinguindo há
65 milhões. Conviveram não pacificamente com os dinossauros os primeiros
mamíferos surgidos há 200 milhões de anos e as aves há aproximadamente 150
milhões de anos.
É nesse
período definitivo para o planeta que aconteceram os eventos descritos no
quinto dia.
A ÁGUA NO
CENTRO DO ENTENDIMENTO
A água está
no centro de todas as cosmogonias mais importantes das tradições religiosas da
humanidade.
Para a
religião egípcia, babilônica, judaica, hindu, e tantas outras, a água sempre é
apresentada como fonte da vida material.
Não é
diferente na concepção cristã, que vê a água sob a mesma perspectiva judaica, e
bem mais! Na doutrina cristã a água é carregada de significado e de um poderoso
simbolismo místico. O cristão nasce “da água e do espírito” (Jo 3.5) e
em razão do seu arrependimento e escolha racional de mudança de vida, se
submente ao sacramento do batismo com água.
Para o fiel
religioso e místico, a água é muito mais que uma composição química de
hidrogênio e oxigênio. Ela é o elemento que marca definitivamente o primeiro
passo da caminhada cristã apelando para significados cada vez mais profundos.
O gelo e o
vapor não é água, embora os três estados físicos sejam quimicamente a mesma
coisa. O gelo é água dura e o vapor é água que voa. Um é pesado, o outro é mais
leve que o ar. O gelo é água que boia na água. O vapor é um estado que a água não
pode conter. Tudo serve como uma metáfora profunda sobre o caráter misterioso
da Trindade Divina.
Aquele que que
não tem preconceito de conhecer as tradições religiosas percebe na água um
caráter místico e metafísico, digno de ser meticulosamente estudado.
Os eventos
milagrosos da vida de Jesus passam a ter significados profundos quando
compreendemos as implicações simbólicas de algumas de suas ações. Acalmar a
tempestade e o mar ou mesmo andar sobre as águas indica domínio sobre o mundo
dos submersos no Oceano das Águas Primordiais. Indica também seu senhorio sobre
o agente que produziu a vida no quinto dia da criação.
Certamente
no simbolismo dos tres estados da água e traçando um paralelo com as Tres
Personalidades da Trindade, Jesus é o gelo que pode ser esmagado, como Ele
mesmo foi em sua crucificação. O gelo que boia e não se afunda quando anda
sobre as águas de um mar revoltoso.
Deus
conferiu à água o poder da gestação das sementes que chegaram ao nosso planeta
no transcorrer do terceiro dia. Sob a ordem da voz do Criador a água gerou a
vida, pois assim como a Terra, sob Deus a água também é autônoma.
As águas
que estão acima do céu visível é o ovário do universo e dele procedeu em meio a
intenso louvor a produção das sementes que ao chegarem ao nosso planeta foram
responsáveis pela formação da vida: “Que os mais altos céus o louvem e
também as águas que estão acima do céu” (Sl
148.4).
A ciência
aponta que nesse período geológico aconteceu o aparecimento dos seres
multicelulares especificamente nas águas dos mares. Aconteceu a fantástica
multiplicação dos seres aquáticos e sua espetacular evolução para forma de
aves.
Nadar e
voar são atividades similares, pois acontecem em ambientes adequados onde o
peixe ou a ave pode se movimentar livremente para todas as direções.
O homem,
limitado pelo solo e pela ausência de asas ou a capacidade de sobreviver sem
oxigênio no estado gasoso, não é autossuficiente para, como os peixes e as
aves, cada um em seu domínio, ser livre para se movimentar em todas as direções
espaciais.
Os peixes
passaram a habitar as densas águas de baixo, enquanto as aves passaram a
dominar as vaporosas águas de cima. Os peixes ‘voando com suas nadadeiras’ e as
aves ‘nadando com suas asas’.
Os mares e
os oceanos do nosso planeta ainda permanecem pouco conhecidos e pouco
explorados pela humanidade. Sabemos mais sobre o espaço sideral do que sobre o
fundo dos oceanos.
O
FANTÁSTICO MUNDO SUBMARINO
A
existência de grandes criaturas marinhas é citada em vários textos das
Escrituras, deixando em aberto a possibilidade para elaboração de teorias (às
vezes conspiratórias), acerca de uma civilização de seres fantásticos (ou não
tão fantásticos assim!), vivendo ocultados pelas profundezas das fossas
submarinas.
O Leviatã,
um ser incrível apontado como possuidor de mais de uma cabeça (Sl 74.14),
Raabe, um ser marinho poderoso sempre citado por sua conexão com a altivez e o
orgulho, sendo uma metáfora para o reino dos faraós (Sl 89.10; Is 51.9) e o
Tanin descrito como o dragão do mar (Is 27.1).
Segundo o
Zohar, o Tanin (ou Hatanyn) foi a serpente (ou dragão) que surgiu a partir do
cajado que Arão jogou ao chão diante de faraó e seus feiticeiros.
Segundo o
Êxodo, Moisés pediu que Arão jogasse o cajado na frente do Faraó. O cajado de
Arão se transformou em ‘tanin’ e devorou os cajados dos feiticeiros do Egito
que haviam se transformado em ‘taninim’. A palavra ‘tanin’ em árabe, idioma
muito próximo ao aramaico, significa dragão.
Segundo as
Escrituras é inegável a existência de seres fantásticos ainda não catalogados
pela zoologia.
Em muitas
culturas primitivas esses seres incríveis são citados e aceitos como criaturas
reais. Todavia, para a displicente sociedade moderna a citação desses seres é
mera mitologia, afinal a moderna sociedade pensa que por viver na era
tecnológica, é sabedora dos profundos mistérios do mundo e mesmo sabendo quase
nada acerca dos mares, o homem sorri e diz que a Bíblia conta histórias de
fantasia. Intitula de fantasia aquilo que não possuem propriedade científica
para refutar.
O crente
sabe o mais importante: as grandes criaturas marinhas, por mais assustadoras
que sejam, estão sob o domínio de Deus, existindo como ferramenta para servir
os sábios propósitos do Criador.
Jonas
experimentou o ‘ventre’ de uma criatura que possuía em seu interior a
capacidade de preservar a vida humana por mais de dois dias completos. No livro
de Jonas (1:17) o texto bíblico afirma que o profeta fora engolido por um
‘grande peixe’. Já no Novo Testamento (Mt 12.40) lemos que Jonas fora engolido
por uma ‘baleia’. Acontece que a expressão hebraica traduzida como ‘baleia’, no
original significa: ‘grande monstro marinho’. A palavra grega não significa
‘baleia’, mas ‘criatura marítima’, podendo também significar, ‘algum grande
peixe’. Isso não significa que o grande peixe que engoliu Jonas não tenha sido
uma baleia! A certeza que temos é que não se tratava de nenhum dos outros
grandes animais marinhos citados nas Escrituras, pois, esse grande peixe é
meticulosamente distinguido da ‘serpente’ do mar (Am 9:3), que também é chamada
"Leviatã" (Is 27:1) e também do ‘monstro das profundezas’ (Jó 7:12;
Sl 74:13; Ez 32:2) e de todas as outras.
O ‘grande
peixe’ da história de Jonas é entre outras possibilidades uma das “grandes
criaturas marinhas” citadas no texto do quinto dia da criação.
A PRIMEIRA
BÊNÇÃO
No fim do
quinto dia temos a primeira benção que Deus liberou para nosso mundo e os
primeiros abençoados são os animais aquáticos e as aves.
Trata-se da
bênção da procriação, um poder que Deus estendeu posteriormente aos animais e,
depois, à humanidade. “E Deus os abençoou, dizendo:
Frutificai e multiplicai-vos, e enchei as águas nos mares; e as aves se
multipliquem na terra”. A procriação é uma ordem direta com caráter de bênção.
Por isso a natureza criada luta pela sobrevivência e pela perpetuação da
espécie. A natureza está obedecendo à mais primitiva ordem de Deus: “frutificai
e multiplicai-vos”.
A
reprodução ou o poder de se reproduzir, seguido do direito de nascer é a
primeira bênção anunciada por Deus. Que os homens do nosso tempo entendam que o
milagre do Nascimento deve ser respeitado, admirado e aceito como um ato de
generosidade do Criador.
TODOS OS
DIAS DA CRIAÇÃO SE RESUMEM EM JESUS
O primeiro
dia da criação, em função da invenção da luz, é uma metáfora do nascimento
histórico do Senhor, pois em Cristo, a luz de Deus invadiu o mundo dos homens.
O segundo
dia é a hora da grande batalha, por isso nos remete à morte de Cristo e à
guerra travada entre a luz e as trevas.
O terceiro
dia é a correspondência do ministério terreno de Jesus, focado na revelação do
Evangelho, conhecido como a Boa Semente. Se no terceiro dia da criação as
sementes foram produzidas na imensidão do espaço, no ministério de Cristo, o
terceiro dia é a semente do céu que faz brotar filhos para Deus.
Perceba que
a morte de Jesus (segundo dia) acontece na correspondência dos dias da criação,
antes de seu ministério terreno (terceiro dia). A sequência parece desfocada da
cronologia temporal, todavia assim se deu a história da Redenção! Jesus é o
Cordeiro morto antes da fundação do mundo, ou seja, sua morte aconteceu fora do
tempo, antes da invenção do relógio. Antes de realizar seu ministério terreno,
sua morte já havia satisfeito a justiça de Deus. Jesus morreu muito antes que o
tempo fosse inventado, muito antes de ter nascido no mundo dos homens.
Assim como
o sol rompe a cortina de poeira cósmica e beija a face da terra, também o
quarto dia da criação é uma representação da ressurreição e ascensão de Cristo
– é quando o Sol da Justiça emerge de sua humilhação e ocultação na terra para
ocupar seu lugar no Céu dos Céus – no centro de controle dos mundos criados. O
Sol do mundo físico parte do alto para baixo; o Sol da Justiça desce à terra
para sua humilhação, todavia por sua vitória se projeta de baixo para cima.
Chegamos ao
quinto dia da criação, que é a revolução das águas. Esse dia representa a vinda
do Espírito Santo (caracterizado por aquele que repousa sobre as águas ativando
a evolução da vida).
Com a vinda
do Consolador a história da Igreja de Cristo pôde começar. Sugestivamente em
seu ministério, Jesus chamou seus discípulos de “pescadores de
homens” (Mt 4.19).
Na
cronologia da criação entendemos que as aves um dia foram peixes. Do mar para
os céus. De peixes para aves. Aqueles que estavam mergulhados no Lago das Águas
sob o trono do Altíssimo, ganham ‘asas’ e voam ao encontro do Senhor, nos ares.
“Logo em seguida, nós, os que estivermos vivos sobre a terra,
seremos arrebatados como eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos
ares. E, assim, estaremos com Cristo para sempre!” (1Ts
4.17). Da água para o céu. Do mundo manifestado para o mundo das ideias. Da
densidade das águas de baixo para a liberdade das águas de cima.
O quinto
dia da criação fala da história da igreja. E o sexto dia sobre o que falará?
Naturalmente respondemos que, se a obra da criação de Deus está conectada com a
obra de recriação de todas as coisas, o sexto dia fala da redenção do homem na
parousia, o estado perfeito de todas as coisas.
No sexto
dia da criação Deus formou o homem. Entenda isso: Deus forma, o diabo deforma,
a igreja reforma, mas somente Cristo transforma. No sexto dia da obra de Cristo
o fiel irá receber um novo corpo pela ressurreição e ser ascendido a níveis
superiores de realidade.
Vem a
manhã, a tarde e a noite, e o sétimo dia está à espera da igreja, que viverá a
eternidade do descanso do Criador, onde o passado e o futuro serão
cristalizados em um eterno presente.
É certo que
o sublime relógio irá soar a hora final dos mundos criados pelo Absoluto Senhor
do Universo. Aquele que permanece incompreensível às inteligências finitas
manifestará mais uma pequena fagulha do seu poder; e nessa hora misteriosa
conheceremos mais uma impressão do Pensamento Divino, a manifestação do Logos. O que nos espera é mencionado de forma
sublime pelo Apóstolo Paulo. O maior filósofo do cristianismo não conseguiu
ocultar seu deslumbramento ao escrever:
"Nem olhos
viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus
tem preparado para aqueles que o amam" (1 Co 2:9).
Cesar de Aguiar
teolovida@gmail.com
retirado do livro CRIAÇÃO DESVENDADA
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