FOI TARDE E MANHÃ
No primeiro capítulo de Gênesis, por seis vezes o escritor repete
a frase: “e foi
tarde e manhã, o dia... primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto e sexto”.
Para compreendermos como funciona o conceito que o texto quer nos
passar é necessário saber que os calendários no mundo ocidental, funcionam de
forma diferente do calendário judaico dos antigos tempos bíblicos.
Diferente da nossa cultura occidental o dia de Gênesis não começa
pela manhã e termina de tarde. Ele começa pela tarde e termina pela manhã. Podemos
perceber que a interpretação transmitida pelo texto é a de que um dia termina
quando as trevas da noite são dissipadas pela luz da manhã.
Na lógica de Deus, a luz foi criada para vencer as trevas. Todos
os dias, com o nascer do Sol somos relembrados de que a luz é vitoriosa sempre.
O ser inteligente e sensível à mensagem das Escrituras entende que
a luz nossa de cada dia é para si, uma mensagem direta: o Sol se levanta e
todos os dias destrói o domínio das trevas. Diante de tal premissa, o homem
sábio se levanta e segue o exemplo do Sol.
O homem que o Criador colocou no planeta passou a ser o seu Fiel
Representante. Como tal, o homem recebeu a incumbência de estabelecer seis
domínios sobre a criação:
1- domínio sobre toda a
terra
2- domínio sobre os
peixes do mar,
3- domínio sobre as aves
do céu,
4- domínio sobre os
animais que se movem sobre a terra,
5- domínio sobre todas as
plantas e ervas,
6- domínio sobre todo o
réptil que se arrasta sobre a terra.
“E Deus os
abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e
sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre
todo o animal que se move sobre a terra. E disse Deus: Eis que vos tenho dado
toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a
árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento. E a todo o
animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há
alma vivente, toda a erva verde será para mantimento; e assim foi.” (Gênesis
1:28-30)
Foi assim que o homem se tornou o legítimo governante da Terra.
Como Representante do Criador, ele tinha total autonomia de comando sobre a
criação natural. E assim ele comandou a natureza até o dia em que rompeu com a
confiança que Deus havia nele depositado.
Toda ação tem uma reação e por consequência a queda trouxe
desgraça para o homem, para os animais, para o planeta e muito mais. A nível
multiuniversal a queda desorganizou todo o arranjo da criação.
A desobediência do homem à expressa ordem de Deus o destituiu de
seu cargo e corrompeu os domínios pacíficos que ele possuía sobre a natureza
criada. Após a queda, a natureza se revoltou contra o homem, afinal, o pecado
contra Deus também foi uma traição contra seus domínios.
O homem, que outrora possuía o controle pacífico sobre a criação,
após a queda não gozava mais da confiança da natureza. A partir de então o
homem deveria reconquistar essa confiança através do trabalho distinto e do
respeito às leis naturais.
Após o rompimento da confiança entre Deus e o Homem, Homem e
natureza também não possuíam mais uma relação de confiança. Afinal a confiança
estabelecida entre a natureza e o homem existia apenas porque Deus era o
avalista daquela relação.
O plano de Deus para o homem, em relação à criação era o Domínio.
Deus ordenou que o homem dominasse sobre os seis reinos naturais.
Criado no último instante do sexto dia, o homem deveria dominar
sobre todos os dias da criação: seis domínios para seis dias.
Perceba que Deus ordenou o domínio sobre o planeta e sobre a
natureza, todavia não existe nenhuma ordenança onde o homem seja instruído a
dominar o seu próximo. Isso porque o homem não foi criado para dominar o homem.
O homem foi feito livre e a liberdade deveria ser respeitada entre as partes.
“... a terra,
e sujeitai-a; e dominai...” (Gn 1:28). A terra deveria ser sujeitada e dominada pelo homem,
todavia o homem não deveria ser sujeitado, nem dominado por ninguém.
Jesus é Senhor dos Senhores, indicando que todos os homens, abaixo
Dele também são Senhores e não massa de manobra. Antes da queda, o homem era
livre e existia para dominar a natureza criada. Após a queda, o homem, perdendo
o domínio sobre a natureza, passou a ser carente de redenção e salvação.
Note que o estágio primário do homem era ser Senhor, todavia esse
senhorio foi perdido, tornando o homem um servo da própria natureza criada.
O homem que antes era servido pela natureza, após o pecado passou a
servi-la, arando a terra e plantando sementes. O que antes era uma via de mão
única, onde a natureza servia ao homem, depois do pecado passou a ser uma via
de mão dupla: o homem serve a terra e somente depois, a terra, agradecida,
retribui ao homem com seu fruto.
Após o pecado, tudo mudou na relação entre homem e natureza. A
natureza não mais acreditava no homem e por isso não mais aceitava o seu
domínio pacífico. Com a perda da confiança, o homem não tinha nada mais a
perder, afinal, perder a confiança é perder tudo.
A partir da queda, o homem, por uma questão básica de
sobrevivência, deveria se empenhar em recuperar a confiança perdida. Deveria
trabalhar a terra e respeitar suas características e vontades próprias. Ao
invés de perguntar: ‘em que a natureza me serve (?)’, o homem deveria aprender
a mudar o sentido da pergunta para: ‘em que eu posso servir a natureza (?)’.
Mas não foi isso que aconteceu!
Em sua ganância e egoísmo o homem sacrificou o Todo em função da
parte; colocou sua vaidade em primeiro lugar conseguindo apenas piorar as
coisas. Sem obter sucesso em recuperar a
confiança da natureza, ele declarou guerra contra as forças naturais e contra
toda a criação.
Como um louco, nunca mais parou de enfrentar negativamente as
forças da natureza.
O desmatamento e a matança irresponsável de animais são uma
evidência cabal da natureza caída do homem. Aquele que recebeu a honra de
dominar de forma pacífica sobre todos os níveis da criação material deixou que
o seu egoísmo o transformasse em um tirano.
A energia maligna produzida pelo divórcio entre o homem e a
natureza se tornou a força escura que eclipsou a virtude da empatia.
Quando se colocar no lugar do outro deixa de ser uma prática, o
coração se endurece e tudo passa a ser matéria prima para fabricar objetos que
satisfazem apenas a vaidade.
Entenda que nesse contexto, o outro não se limita a pessoas
apenas. O outro também deve ser entendido como os animais, árvores, plantas e
toda a vida existente.
A falta de empatia faz com que tudo se transforme em meios que
podem ser utilizados de qualquer maneira para suprimento de nossas
desnecessidades.
Pessoas, animais e plantas se tornam coisas sem alma e sem
significado, até que finalmente, também Deus se torna matéria prima dos nossos
sonhos mais esquisitos.
Por isso existem aqueles que não ligam em jogar comida fora,
afinal de contas, o seu ventre já está saciado. Por isso existem aqueles que
não se importam em caçar discriminadamente apenas por prazer de matar, afinal,
o que significa a vida de um animal silvestre? Por isso existem aqueles que se
divertem olhando pássaros presos em gaiolas, todavia, não concebem a ideia de
ficarem presos nem por um dia sequer.
Numa evolução desastrosa, existem aqueles que assumiram o último
degrau da desgraça: aqueles que não se importam em comercializar a fé dos mais
simples; esses são os falsos profetas de sempre, aqueles que vendem deus aos
pedaços, como carne no açougue.
Cesar de Aguiar
teolovida@gmail.com
retirado do livro CRIAÇÃO DESVENDADA
Parabéns pelo conteúdo. Sensacional!😄
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