quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O BOM SAMARITANO

Lucas 10:25-37
E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?
E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.
E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás.
Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?
E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.
E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.
E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo.
Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão;
E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele;
E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar.
Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?
E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira.

1-    A atitude do Doutor da Lei.

a-    “Levantou-se’’
Essa é uma cortesia social e uma saudação de respeito

b-   “Para testa-lo’’
Um engano interior que provém de um coração corrompido. Hipocrisia.

c-    Chama Jesus de ‘Mestre’.
O uso deste título é uma afirmação de que Jesus é no mínimo igual a ele.


2-    A pergunta do Doutor da Lei.

“O que farei para herdar a vida eterna?”
Olhando superficialmente podemos julgar que a pergunta é sem sentido. Todavia os judeus se julgavam herdeiros da vida eterna por serem descendentes de Abraão.
A obediência à Lei Deus era na maioria dos casos apenas ornamental.

3-    Jesus fala:

“O que está escrito na lei. Como o lês?”
Jesus sugere que o Doutor da Lei cite as escrituras de forma fiel e não apenas faça uma explanação.

“Respondeste bem. Faze isto e viverás.”
a-    Jesus o louva pelo seu bom conhecimento e recitação. Mas será que ele está disposto a agir conforme o que conhece?
O desempenho intelectual é excelente, mas a vida real ainda é uma dúvida.

b-    Jesus devolve a pergunta, e incita o Doutor da Lei responder a si mesmo.
As respostas que recebemos de Deus acerca das nossas perguntas a Ele, sempre estão dentro de nossa gama de conhecimento.
Por isso a necessidade de se conhecer as Escrituras.
Deus vai usar a palavra Dele que está instalada dentro de nós para nos responder. Sempre!

c-    O Doutor da Lei faz uma pergunta a respeito da vida eterna.
Jesus amplia a discussão para a vida toda. 
“Viverás” fala do futuro imediato com continuidade para a vida seguinte.
Ou seja: nossa vida na terra emenda com nossa vida após a morte.
Vida eterna é a partir de já. Sem interrupção.

d-   “Faze”.

É presente do imperativo, significando: continua fazendo.
Não é uma ordenança que cumprimos e recebemos uma premiação por ela. É um estilo de vida. Amor ilimitado a Deus e ao próximo.

A Lei é um padrão que se o homem obedecer continuamente, sem falhar em nada, torna o homem merecedor do céu. Jesus concorda com isso!
Todavia, a Lei que o Doutor da Lei cita estabelece um padrão que ninguém pode alcançar completamente.
O homem sempre vai falhar em algum ponto. E quando o homem falha no menor ponto que seja, todo o castelo construído se desmorona.

4-    “Quem é o meu próximo?”

A Lei esclarece essa pergunta em

Lv 19:17-18
Não odiarás a teu irmão no teu coração; não deixarás de repreender o teu próximo, e por causa dele não sofrerás pecado.
Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.

Gentios não pertencem a esse grupo.
A intenção da pergunta era que Jesus usasse o conhecimento das Escrituras
para lhe responder: “são os seus parentes e pessoas da nação de Israel”.
Recebendo essa resposta, o Doutor da Lei responderia: “eu tenho feito isso. Tenho amado plenamente a essas pessoas”.
Na sua mente hipócrita, o Doutor imagina Jesus respondendo:
“Verdadeiramente cumpriste a Lei”.
Com essa resposta ele voltaria pra casa pavoneando-se diante das pessoas no louvor de suas boas obras.

5-    Jesus vai proferir a parábola. Sua intenção é mostrar:

a-    Amor não vem com endereço. Deus não rotula as pessoas que devemos amar.

b-    A mensagem do Evangelho nos nivela. Somos iguais. Deus não tem filhos prediletos.

c-    O cerne do Evangelho não está entre fazer o certo e o errado. O cerne do Evangelho está entre fazer o certo e fazer o bem.

d-    Lei e Justiça são coisas diferentes. Nem tudo que é legal é justo.
Amor e Justiça são atributos de Deus, legalidade não.
Nós podemos desobedecer uma lei humana, quando o bem do meu próximo está em jogo? A parábola vem nos ensinar que sim!

e-    5 pessoas caminhavam pelo mesmo caminho (sacerdote, levita, samaritano, salteador e o caído). Cada uma fez um caminho diferente.
É CAMINHANDO QUE SE FAZ O CAMINHO. EVANGELHO É VIDA!


UMA OBRA EM 7 ATOS


Ato 1: Os Salteadores

A distancia de Jerusalém a Jericó é 27 km, descendo pelo deserto.
Famosa por milênios de história, nessa estrada sempre houve muitos ladrões.
Existem referencias históricas da época dos cruzados e até de 1857.
A referência ‘quase morto’ é para caracterizar o necessitado como alguém que estava inconsciente, portanto não podia se identificar.
As duas maneiras de identificar alguém na Palestina do século 1, é pela língua falada ou pela forma de se vestir.
O caído está inconsciente e despojado. Sem poder se identificar ou mesmo ser identificado, o homem tinha sido reduzido a apenas um mero ser humano em estado de necessidade.
Naquele estado ele não pertencia a nenhuma classe social ou mesmo a nenhuma classe religiosa.
“QUEM SE DESVIARÁ DE SEU CAMINHO PARA PRESTAR AJUDA?’’


Ato 2: O Sacerdote

O pressuposto natural da parábola é que o Sacerdote vinha a cavalo.
Ele pertencia à mais elevada classe social daquela época e não fazia sentido estar a pé.
Pobres andam a pé. Uma viagem de 27 km feita por um ilustre só poderia ser feita a cavalo.
Certamente o Sacerdote mora em Jericó e serve ao templo em Jerusalem.
No caso, ele havia ministrado seu trabalho no templo e estava voltando para casa. Muitos sacerdotes serviam no templo por 2 semanas e moravam em Jericó.
O mundo em que o Sacerdote vivia é bem explicado por um texto do Eclesiástico (apócrifo da bíblia católica): “porque acharás dobrado mal por todos os bens que lhe fizeres (aos gentios)”.
Desta forma uma ajuda dada a um gentio poderia ser interpretada como uma afronta ao próprio Deus.
O Sacerdote é um prisioneiro do seu sistema legal-religioso-teológico.
a-    Ele não foi testemunha ocular do crime. Como saberia que aquele caído era seu próximo?

b-    Ele serve no templo. E se aquele homem estivesse morto?
No templo, o Sacerdote recebe e distribui dízimos. Se ele se contaminar,
ele não poderá fazer nenhuma dessas coisas. Seus servos e sua família
sofrerão as consequências dos seus atos.

c-    A lei previa 5 níveis de contaminação. O contato com um cadáver estava no topo da lista. Logo abaixo vinha um contato com um não judeu.
Ou seja as duas primeiras opções que estavam no topo da lista estavam provavelmente ali, diante dele.

d-    Estando impuro, o sacerdote tinha que apresentar ao Sumo Sacerdote.
Este o colocava de pé na Porta Oriental e contava a todos o seu pecado.
Uma grande vergonha.

e-    O processo de restauração da pureza ritual era caro e consumia tempo.
Incluia a busca, a compra e a queima de uma novilha vermelha, até tornar-se cinzas. Isso demorava uma semana inteira.
Esses motivos justificam a atitude do Sacerdote.

O Sacerdote luta contra sua tendência de ser um homem bom.

Ele procura evitar o pecado e alcançar a santidade. Seus colegas teriam aplaudido de pé a sua atitude.
Ele tinha a obrigação de passar longe do ferido, afinal o mandamento de não se contaminar era incondicional.
O Sacerdote era vítima de um sistema ético religioso que era um livro de regras. A vida dele era um sistema codificado de “faça” e “não faça”.
Até os dias de hoje essa mentalidade persiste, alegando oferecer segurança de ter respostas rápidas para todos os problemas e interrogações da vida.
As repostas alcançadas nesse sistema dão ao devoto a pseudo segurança de se estar agindo corretamente.
Isso funciona bem até que a pessoa se depara com um homem inconsciente na beira da estrada.
Quando somos impactados por uma situação que coloca em cheque nossas convicções ético religiosas, temos que decidir entre nossa posição no seio da comunidade ou estender a mão livremente ao necessitado.

A escolha do Evangelho não está entre o que é certo e o que é errado.
O Evangelho é aquilo que me habilita a escolher entre o que é certo e o fazer o bem.

O IMPORTANTE NÃO É SER MELHOR DO QUE OS OUTROS.
O IMPORTANTE É SER MELHOR PARA OS OUTROS.

O Sacerdote escolheu o lado da Religião. Que lado nós vamos escolher?


Ato 3: O Levita

O Levita também servia no templo em Jerusalém e morava em Jericó.
Portanto ele, na mesma condição do Sacerdote, estava voltando do culto.

O QUE EU FAÇO COM AQUILO QUE APRENDI NO CULTO?

A atitude do Levita e do Sacerdote mostra que o que eles aprendiam no templo não valia nada quando iam viver a vida real.
A mensagem não tinha vida e não era acoplada à vida. Pertencia ao teatro do templo. E no templo se usava as máscaras da piedade. Na vida real tudo era diferente.
Pra que serve na vida o que eu ensino no templo?
Pra que serve na vida o que eu aprendo no templo?
O Levita não está tão sujeito às leis rituais quanto o Sacerdote. Ao levita era requerido apenas pureza ritual no decurso de suas atividades litúrgicas.
Ele poderia livremente ter ajudado ao necessitado. O homem poderia ser um não judeu ou mesmo poderia morrer em seus braços. Para o Levita esse fato nãos seria tão sério quanto para o Sacerdote.
A negligencia do Levita, quanto a do Sacerdote é responsável para o aumento do estado de piora do caído.
A estrada que ligava Jerusalém a Jericó era uma descida vertiginosa. Não havia vegetação nos acostamentos. Era um caminho estreito. Pessoas num nível mais alto da estrada vêem claramente o que está acontecendo na estrada à sua frente.
A forma como Jesus conta a parábola e a maneira simultânea como os fatos se desenrolam, deixa sub-entendido que o Levita assistiu a atitude do Sacerdote em relação ao homem caído.
O Levita vive seu momento de tensão emocional mas resolve apoiar sua decisão no exemplo do Sacerdote.
Pessoas que se apoiam no legalismo para justificar sua atitudes e pessoas que apoiam suas atitudes, no “bom” exemplo dos chamados santarrões da igreja moderna.
O Sacerdote se apoiou na lei e o levita se apoiou na ignorância de seguir o homem e não a misericórdia. Preferiu copiar do que ser maduro o suficiente para tomar suas próprias decisões.


Ato 4: O Samaritano

Depois de apresentar um Sacerdote e um Levita, o auditório, naturalmente espera um leigo judeu, alguém de uma outra tribo que não fosse a de Levi. Alguem da tribo de Ruben, Gade ou Simeão.
A sequencia é interrompida e Jesus apresenta um odiado Samaritano. Isso foi devastador!
Os Samaritanos são considerados hereges pelos judeus.
E os hereges são mais odiados do que os gentios.
Samaritanos obedecem à Torá. Não são gentios. São consanguíneos dos judeus. Mas interpretam a religião de forma diferente dos judeus.
Flávio Josefo conta que na época de Jesus, os Samaritanos durante a celebração da páscoa, contaminaram o templo espalhando ossos humanos pelo pátio.
Samaritanos eram publicamente amaldiçoados nas sinagogas e os judeus oravam publicamente pedindo a Deus que os Samaritanos não fossem incluídos na vida eterna.
Jesus poderia ter contado a história de um Judeu nobre ajudando a um Samaritano em necessidade, mas uma história onde as classes mais altas da sociedade judaica são execradas e um Samaritano é posto como herói. Isso é de uma coragem que somente nosso Mestre tem.
Seria equivalente um americano contar para o pai de uma pessoa que morreu na tragédia do Word Trade Center, uma história a respeito de um ato de nobreza realizado por Osama Bin Laden.
Jesus atinge um dos sentimentos mais profundos de ódio do auditório, e os expõe.
“A pedagogia de Deus trabalha dessa forma. Situações extremas são os métodos que Deus usa para nos aperfeiçoar. Nossos sentimentos são expostos. Nossas atitudes são confrontadas.”
O Samaritano se arrisca, afinal os ladrões ainda estão por perto.
Os ladrões poderiam poupar um Sacerdote ou um Levita. Mas não hesitariam em assaltar um odiado Samaritano. Todavia é o Samaritano que pula os muros da lei e se move de compaixão. Essa compaixão é imediatamente traduzida em atos concretos.
“AMOR NÃO É SENTIMENTO. AMOR É ATITUDE!”


Ato 5: Os Primeiros Socorros

O óleo e o vinho não são remédios comumente usados para prestar primeiros socorros. O óleo e o vinho eram elementos sacrificiais usados na adoração no templo. E o verbo derramar também vem da linguagem litúrgica.

Salmo 51:16,17
Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos.
Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.

Durante séculos, salmistas e profetas soaram um clamor para que o povo fosse além dos rituais e reagissem adequadamente a tudo o que Deus havia feito por eles. Deus não quer uma adoração mecânica. Que funciona muito bem na igreja, mas não tem conecção com a vida.
Ao abençoar o SEU PRÓXIMO, é o Samaritano quem derrama a verdadeira oferta a Deus.
Mesmo desobedecendo toda a lei. Se o necessitado fosse um judeu, após sua cura o judeu iria responder com ódio e total ingratidão ao Samaritano.
Era uma desonra um judeu ser auxiliado por um samaritano. O Samaritano tem consciência disso, todavia ele não se importa com a reação do ajudado. O amor do Samaritano é desinteressado e não quer nada em troca.
‘O QUE RENDE JUROS É DINHEIRO. O AMOR É DE GRAÇA!’


Ato 6: Transporte para a Estalagem

No Brasil não somos divididos em etnias ou mesmo temos rivalidades civis dentro do território da nação.
Todos já assistimos filmes de faroeste: imagine um índio americano entrando em Dodgie City com um cowboy escalpelado na garupa do cavalo, procurando um hotelzinho e passando a noite a cuidar dele. Ninguem do lugar veria esse ato como algo positivo. Provavelmente o índio não sairia vivo do local, mesmo que tivesse salvado a vida do cowboy.
O mais prudente ao Samaritano era deixar o ferido na estalagem e sair correndo da cidade.
A coragem do Samaritano:
a-    Quando para no deserto e fica a mercê dos ladrões

b-    Ele está disposto a pagar um alto preço pela restauração do ferido.
Primeiro com dinheiro, depois com a própria vida.

c-    Ele continua a pagar o preço na cena final.


Ato 7: O Pagamento Final

A historia poderia ter acabado com o Samaritano levando o ferido para a estalagem e deixando o homem em lugar seguro.
Mas não: O Samaritano compensa as falhas do Sacerdote, do Levita e finalmente faz compensação pelas falhas dos ladrões.

OS ASSALTANTES
O SAMARITANO
Roubaram-no
Paga por ele
Deixaram-no moribundo
Deixa-o sob cuidados
Abandonaram-no
Promete voltar

A cena do Samaritano voltando para terminar o pagamento pelas despesas do necessitado não é apenas decorativa. O ferido não tinha dinheiro. Se ele não pudesse pagar pela estalagem ele poderia ser preso.

SEGUNDO TEMPO


O Doutor da Lei é racionalmente obrigado a responder que o Samaritano é o herói da história.
O que Jesus propõe nessa parábola é que o padrão de obediência é superior ao descrito na lei, e que mesmo que eu nunca o alcance, o padrão continua sendo válido.
Mas o que eu farei para alcançar a vida eterna se não consigo atingir o padrão proposto? O padrão é elevado demais.
A parábola estabelece um padrão ético pelo qual se deve lutar, mesmo que não seja alcançado plenamente. A vida eterna não é merecida. Ela é doada de forma gratuita. A obediência à lei é uma forma de agradecermos a Deus por aquilo que ele nos fez em Cristo.
Jonh Milton era um traficante de escravos que se converteu em meio a uma tempestade em alto mar e se transformou em um pastor no século 17.
Ele conta em seu testemunho que mesmo após muitos anos ainda fechava os olhos e ouvia os gemidos das pessoas que ele traficou e que morreram como escravos.
As pessoas que se perderam por causa da sua ganancia e maldade.
Ele é o compositor do mais famoso hino de todos os tempos: Amazing Grace. –‘ Oh graça maravilhosa que me salvou!’

Quando olho para meu presente eu vejo que não sou quem eu deveria ser. Mas quando olho para o meu passado eu vejo que não sou mais como era antes.
Gradualmente o Evangelho vai me transformando em uma pessoa melhor. A mensagem definitiva da parábola do Bom Samaritano é essa:

PELA GRAÇA DE DEUS EU SOU O QUE SOU.
E SOMENTE POR ELE POSSO TER A VIDA ETERNA.

Finalmente concluímos: A vítima, o sacerdote e o levita estavam voltando do culto.
O que faço na vida com aquilo que aprendi no culto (no templo)?
O levita já deveria ter dirigido o louvor e feito a moçada suar a camisa na aeróbica religiosa.
O sacerdote já tinha pregado o sermão do dia. Mas na rua, onde a vida acontece, isso não serviu para nada, não era uma matéria acoplada à vida, não tinha vida e não tinha nada a ver com a vida.
Era matéria de templo, para uso exclusivo no gueto da igreja.
A lição da parábola passa por aí: o que eu faço na vida, com aquilo que eu apendo no templo, ou para que serve na vida, o ensino do templo.
É nesse hiato entre o religioso e o salvo pela cruz que reside a alma da igreja de Jesus.
O religioso cuida de coisas. O salvo cuida de pessoas. A religião tende a coisificar pessoas e personificar coisas.
O cristão entende que o ser humano está acima do ritual, e que entre fazer o que é certo e fazer o bem, Jesus orienta a fazer o bem.
Que vantagem pode existir em saber coisas que não são vividas.
O significado da existência reside muito mais no que eu vivo do que naquilo que eu sei.
A verdadeira sabedoria se estabelece em função de experiências pessoais nos mais profundos níveis da vida.
Essa jornada conduz o homem a profundas descobertas interiores e espirituais, uma viagem mais importante e mais essencial que a jornada do homem à lua.

De nada adianta viajar até a lua se não conseguimos cruzar o abismo que nos separa do nosso próximo e por conseguinte, de nos mesmos.

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M. e. César de Aguiar

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