E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo:
Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?
E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu
coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu
entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.
E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás.
Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem
é o meu próximo?
E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para
Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o,
se retiraram, deixando-o meio morto.
E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e,
vendo-o, passou de largo.
E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o,
passou de largo.
Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o,
moveu-se de íntima compaixão;
E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e
vinho; e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma estalagem, e cuidou
dele;
E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao
hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei
quando voltar.
Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu
nas mãos dos salteadores?
E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois,
Jesus: Vai, e faze da mesma maneira.
1- A
atitude do Doutor da Lei.
a-
“Levantou-se’’
Essa é uma cortesia social e uma
saudação de respeito
b-
“Para testa-lo’’
Um engano interior que provém de um
coração corrompido. Hipocrisia.
c- Chama
Jesus de ‘Mestre’.
O uso deste título é uma afirmação de
que Jesus é no mínimo igual a ele.
2- A
pergunta do Doutor da Lei.
“O que farei para herdar a vida eterna?”
Olhando superficialmente podemos julgar que a pergunta é
sem sentido. Todavia os judeus se julgavam herdeiros da vida eterna por serem
descendentes de Abraão.
A obediência à Lei Deus era na maioria dos casos apenas
ornamental.
3- Jesus
fala:
“O que está escrito na lei. Como o lês?”
Jesus sugere que o Doutor da Lei cite as escrituras de
forma fiel e não apenas faça uma explanação.
“Respondeste bem. Faze isto e viverás.”
a- Jesus
o louva pelo seu bom conhecimento e recitação. Mas será que ele está disposto a
agir conforme o que conhece?
O desempenho intelectual é excelente, mas
a vida real ainda é uma dúvida.
b- Jesus
devolve a pergunta, e incita o Doutor da Lei responder a si mesmo.
As respostas que recebemos de Deus acerca
das nossas perguntas a Ele, sempre estão dentro de nossa gama de conhecimento.
Por isso a necessidade de se conhecer as
Escrituras.
Deus vai usar a palavra Dele que está
instalada dentro de nós para nos responder. Sempre!
c- O
Doutor da Lei faz uma pergunta a respeito da vida eterna.
Jesus amplia a discussão para a vida
toda.
“Viverás” fala do futuro imediato com
continuidade para a vida seguinte.
Ou seja: nossa vida na terra emenda com
nossa vida após a morte.
Vida eterna é a partir de já. Sem
interrupção.
d-
“Faze”.
É presente do imperativo, significando:
continua fazendo.
Não é uma ordenança que cumprimos e
recebemos uma premiação por ela. É um estilo de vida. Amor ilimitado a Deus e
ao próximo.
A Lei é um padrão que se o homem obedecer continuamente, sem
falhar em nada, torna o homem merecedor do céu. Jesus concorda com isso!
Todavia, a Lei que o Doutor da Lei cita estabelece um
padrão que ninguém pode alcançar completamente.
O homem sempre vai falhar em algum ponto. E quando o
homem falha no menor ponto que seja, todo o castelo construído se desmorona.
4- “Quem
é o meu próximo?”
A Lei esclarece essa pergunta em
Lv 19:17-18
Não odiarás a teu irmão no teu coração; não deixarás de repreender o
teu próximo, e por causa dele não sofrerás pecado.
Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas
amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.
Gentios não pertencem a esse grupo.
A intenção da pergunta era que Jesus usasse o
conhecimento das Escrituras
para lhe responder: “são os seus parentes e pessoas da
nação de Israel”.
Recebendo essa resposta, o Doutor da Lei responderia: “eu
tenho feito isso. Tenho amado plenamente a essas pessoas”.
Na sua mente hipócrita, o Doutor imagina Jesus
respondendo:
“Verdadeiramente cumpriste a Lei”.
Com essa resposta ele voltaria pra casa pavoneando-se diante
das pessoas no louvor de suas boas obras.
5- Jesus
vai proferir a parábola. Sua intenção é mostrar:
a- Amor
não vem com endereço. Deus não rotula as pessoas que devemos amar.
b- A
mensagem do Evangelho nos nivela. Somos iguais. Deus não tem filhos prediletos.
c- O
cerne do Evangelho não está entre fazer o certo e o errado. O cerne do
Evangelho está entre fazer o certo e fazer o bem.
d- Lei
e Justiça são coisas diferentes. Nem tudo que é legal é justo.
Amor e Justiça são atributos de Deus,
legalidade não.
Nós podemos desobedecer uma lei humana, quando
o bem do meu próximo está em jogo? A parábola vem nos ensinar que sim!
e- 5
pessoas caminhavam pelo mesmo caminho (sacerdote, levita, samaritano, salteador
e o caído). Cada uma fez um caminho diferente.
É CAMINHANDO QUE SE FAZ O CAMINHO. EVANGELHO
É VIDA!
UMA OBRA EM 7 ATOS
Ato
1: Os Salteadores
A distancia de Jerusalém a Jericó é 27 km, descendo pelo
deserto.
Famosa por milênios de história, nessa estrada sempre houve
muitos ladrões.
Existem referencias históricas da época dos cruzados e
até de 1857.
A referência ‘quase morto’ é para caracterizar o
necessitado como alguém que estava inconsciente, portanto não podia se
identificar.
As duas maneiras de identificar alguém na Palestina do
século 1, é pela língua falada ou pela
forma de se vestir.
O caído está inconsciente e despojado. Sem poder se
identificar ou mesmo ser identificado, o homem tinha sido reduzido a apenas um
mero ser humano em estado de necessidade.
Naquele estado ele não pertencia a nenhuma classe social ou
mesmo a nenhuma classe religiosa.
“QUEM SE DESVIARÁ DE SEU CAMINHO PARA PRESTAR AJUDA?’’
Ato
2: O Sacerdote
O pressuposto natural da parábola é que o Sacerdote vinha
a cavalo.
Ele pertencia à mais elevada classe social daquela época e
não fazia sentido estar a pé.
Pobres andam a pé. Uma viagem de 27 km feita por um
ilustre só poderia ser feita a cavalo.
Certamente o Sacerdote mora em Jericó e serve ao templo
em Jerusalem.
No caso, ele havia ministrado seu trabalho no templo e
estava voltando para casa. Muitos sacerdotes serviam no templo por 2 semanas e
moravam em Jericó.
O mundo em que o Sacerdote vivia é bem explicado por um
texto do Eclesiástico (apócrifo da bíblia católica): “porque acharás dobrado mal por todos os bens
que lhe fizeres (aos gentios)”.
Desta forma uma ajuda dada a um gentio poderia ser
interpretada como uma afronta ao próprio Deus.
O Sacerdote é um prisioneiro do seu sistema
legal-religioso-teológico.
a- Ele
não foi testemunha ocular do crime. Como saberia que aquele caído era seu
próximo?
b- Ele
serve no templo. E se aquele homem estivesse morto?
No templo, o Sacerdote recebe e
distribui dízimos. Se ele se contaminar,
ele não poderá fazer nenhuma dessas
coisas. Seus servos e sua família
sofrerão as consequências dos seus atos.
c- A
lei previa 5 níveis de contaminação. O contato com um cadáver estava no topo da
lista. Logo abaixo vinha um contato com um não judeu.
Ou seja as duas primeiras opções que
estavam no topo da lista estavam provavelmente ali, diante dele.
d- Estando
impuro, o sacerdote tinha que apresentar ao Sumo Sacerdote.
Este o colocava de pé na Porta Oriental e
contava a todos o seu pecado.
Uma grande vergonha.
e- O
processo de restauração da pureza ritual era caro e consumia tempo.
Incluia a busca, a compra e a queima de
uma novilha vermelha, até
tornar-se cinzas. Isso demorava uma semana inteira.
Esses motivos justificam a atitude do Sacerdote.
O
Sacerdote luta contra sua tendência de ser um homem bom.
Ele procura evitar o pecado e alcançar a santidade. Seus
colegas teriam aplaudido de pé a sua atitude.
Ele tinha a obrigação de passar longe do ferido, afinal o
mandamento de não se contaminar era incondicional.
O Sacerdote era vítima de um sistema ético religioso que
era um livro de regras. A vida dele era um sistema codificado de “faça” e “não
faça”.
Até os dias de hoje essa mentalidade persiste, alegando
oferecer segurança de ter respostas rápidas para todos os problemas e
interrogações da vida.
As repostas alcançadas nesse sistema dão ao devoto a pseudo
segurança de se estar agindo corretamente.
Isso funciona bem até que a pessoa se depara com um homem
inconsciente na beira da estrada.
Quando somos impactados por uma situação que coloca em
cheque nossas convicções ético religiosas, temos que decidir entre nossa
posição no seio da comunidade ou estender a mão livremente ao necessitado.
A escolha do Evangelho não está entre o que é certo e o
que é errado.
O Evangelho é aquilo que me habilita a escolher entre o
que é certo e o fazer o bem.
O
IMPORTANTE NÃO É SER MELHOR DO QUE OS OUTROS.
O
IMPORTANTE É SER MELHOR PARA OS OUTROS.
O Sacerdote escolheu o lado da Religião. Que lado nós
vamos escolher?
Ato
3: O Levita
O Levita também servia no templo em Jerusalém e morava em
Jericó.
Portanto ele, na mesma condição do Sacerdote, estava
voltando do culto.
O QUE EU FAÇO COM AQUILO QUE APRENDI NO CULTO?
A atitude do Levita e do Sacerdote mostra que o que eles
aprendiam no templo não valia nada quando iam viver a vida real.
A mensagem não tinha vida e não era acoplada à vida. Pertencia
ao teatro do templo. E no templo se usava as máscaras da piedade. Na vida real
tudo era diferente.
Pra que serve na vida o que eu ensino no templo?
Pra que serve na vida o que eu aprendo no templo?
O Levita não está tão sujeito às leis rituais quanto o
Sacerdote. Ao levita era requerido apenas pureza ritual no decurso de suas
atividades litúrgicas.
Ele poderia livremente ter ajudado ao necessitado. O
homem poderia ser um não judeu ou mesmo poderia morrer em seus braços. Para o
Levita esse fato nãos seria tão sério quanto para o Sacerdote.
A negligencia do Levita, quanto a do Sacerdote é
responsável para o aumento do estado de piora do caído.
A estrada que ligava Jerusalém a Jericó era uma descida
vertiginosa. Não havia vegetação nos acostamentos. Era um caminho estreito. Pessoas
num nível mais alto da estrada vêem claramente o que está acontecendo na
estrada à sua frente.
A forma como Jesus conta a parábola e a maneira
simultânea como os fatos se desenrolam, deixa sub-entendido que o Levita assistiu
a atitude do Sacerdote em relação ao homem caído.
O Levita vive seu momento de tensão emocional mas resolve
apoiar sua decisão no exemplo do Sacerdote.
Pessoas que se apoiam no legalismo para justificar sua
atitudes e pessoas que apoiam suas atitudes, no “bom” exemplo dos chamados santarrões
da igreja moderna.
O Sacerdote se apoiou na lei e o levita se apoiou na
ignorância de seguir o homem e não a misericórdia. Preferiu copiar do que ser
maduro o suficiente para tomar suas próprias decisões.
Ato
4: O Samaritano
Depois de apresentar um Sacerdote e um Levita, o
auditório, naturalmente espera um leigo judeu, alguém de uma outra tribo que
não fosse a de Levi. Alguem da tribo de Ruben, Gade ou Simeão.
A sequencia é interrompida e Jesus apresenta um odiado
Samaritano. Isso foi devastador!
Os Samaritanos são considerados hereges pelos judeus.
E os hereges são mais odiados do que os gentios.
Samaritanos obedecem à Torá. Não são gentios. São
consanguíneos dos judeus. Mas interpretam a religião de forma diferente dos
judeus.
Flávio Josefo conta que na época de Jesus, os Samaritanos
durante a celebração da páscoa, contaminaram o templo espalhando ossos humanos
pelo pátio.
Samaritanos eram publicamente amaldiçoados nas sinagogas e
os judeus oravam publicamente pedindo a Deus que os Samaritanos não fossem
incluídos na vida eterna.
Jesus poderia ter contado a história de um Judeu nobre ajudando
a um Samaritano em necessidade, mas uma história onde as classes mais altas da
sociedade judaica são execradas e um Samaritano é posto como herói. Isso é de
uma coragem que somente nosso Mestre tem.
Seria equivalente um americano contar para o pai de uma
pessoa que morreu na tragédia do Word Trade Center, uma história a respeito de
um ato de nobreza realizado por Osama Bin Laden.
Jesus atinge um dos sentimentos mais profundos de ódio do
auditório, e os expõe.
“A pedagogia de Deus trabalha dessa forma. Situações
extremas são os métodos que Deus usa para nos aperfeiçoar. Nossos sentimentos
são expostos. Nossas atitudes são confrontadas.”
O Samaritano se arrisca, afinal os ladrões ainda estão
por perto.
Os ladrões poderiam poupar um Sacerdote ou um Levita. Mas
não hesitariam em assaltar um odiado Samaritano. Todavia é o Samaritano que
pula os muros da lei e se move de compaixão. Essa compaixão é imediatamente
traduzida em atos concretos.
“AMOR NÃO É SENTIMENTO. AMOR É ATITUDE!”
Ato
5: Os Primeiros Socorros
O óleo e o vinho não são remédios comumente usados para
prestar primeiros socorros. O óleo e o vinho eram elementos sacrificiais usados
na adoração no templo. E o verbo derramar também vem da linguagem litúrgica.
Salmo 51:16,17
Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas
em holocaustos.
Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração
quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.
Durante séculos, salmistas e profetas soaram um clamor
para que o povo fosse além dos rituais e reagissem adequadamente a tudo o que
Deus havia feito por eles. Deus não quer uma adoração mecânica. Que funciona
muito bem na igreja, mas não tem conecção com a vida.
Ao abençoar o SEU PRÓXIMO, é o Samaritano quem derrama a
verdadeira oferta a Deus.
Mesmo desobedecendo toda a lei. Se o necessitado fosse um
judeu, após sua cura o judeu iria responder com ódio e total ingratidão ao
Samaritano.
Era uma desonra um judeu ser auxiliado por um samaritano.
O Samaritano tem consciência disso, todavia ele não se importa com a reação do
ajudado. O amor do Samaritano é desinteressado e não quer nada em troca.
‘O QUE RENDE JUROS É DINHEIRO. O AMOR É DE GRAÇA!’
Ato
6: Transporte para a Estalagem
No Brasil não somos divididos em etnias ou mesmo temos
rivalidades civis dentro do território da nação.
Todos já assistimos filmes de faroeste: imagine um índio
americano entrando em Dodgie City com um cowboy escalpelado na garupa do
cavalo, procurando um hotelzinho e passando a noite a cuidar dele. Ninguem do
lugar veria esse ato como algo positivo. Provavelmente o índio não sairia vivo
do local, mesmo que tivesse salvado a vida do cowboy.
O mais prudente ao Samaritano era deixar o ferido na
estalagem e sair correndo da cidade.
A coragem do Samaritano:
a- Quando
para no deserto e fica a mercê dos ladrões
b- Ele
está disposto a pagar um alto preço pela restauração do ferido.
Primeiro com dinheiro, depois com a
própria vida.
c- Ele
continua a pagar o preço na cena final.
Ato
7: O Pagamento Final
A historia poderia ter acabado com o Samaritano levando o
ferido para a estalagem e deixando o homem em lugar seguro.
Mas não: O Samaritano compensa as falhas do Sacerdote, do
Levita e finalmente faz compensação pelas falhas dos ladrões.
OS
ASSALTANTES
|
O
SAMARITANO
|
Roubaram-no
|
Paga
por ele
|
Deixaram-no
moribundo
|
Deixa-o
sob cuidados
|
Abandonaram-no
|
Promete
voltar
|
A cena do Samaritano voltando para terminar o pagamento pelas
despesas do necessitado não é apenas decorativa. O ferido não tinha dinheiro. Se
ele não pudesse pagar pela estalagem ele poderia ser preso.
SEGUNDO TEMPO
O Doutor da Lei é racionalmente obrigado a responder que
o Samaritano é o herói da história.
O que Jesus propõe nessa parábola é que o padrão de
obediência é superior ao descrito na lei, e que mesmo que eu nunca o alcance, o
padrão continua sendo válido.
Mas o que eu farei para alcançar a vida eterna se não
consigo atingir o padrão proposto? O padrão é elevado demais.
A parábola estabelece um padrão ético pelo qual se deve
lutar, mesmo que não seja alcançado plenamente. A vida eterna não é merecida. Ela
é doada de forma gratuita. A obediência à lei é uma forma de agradecermos a
Deus por aquilo que ele nos fez em Cristo.
Jonh Milton era um traficante de escravos que se
converteu em meio a uma tempestade em alto mar e se transformou em um pastor no
século 17.
Ele conta em seu testemunho que mesmo após muitos anos ainda
fechava os olhos e ouvia os gemidos das pessoas que ele traficou e que morreram
como escravos.
As pessoas que se perderam por causa da sua ganancia e
maldade.
Ele é o compositor do mais famoso hino de todos os
tempos: Amazing Grace. –‘ Oh graça maravilhosa que me salvou!’
Quando olho para meu presente eu vejo que não sou quem eu
deveria ser. Mas quando olho para o meu passado eu vejo que não sou mais como
era antes.
Gradualmente o Evangelho vai me transformando em uma
pessoa melhor. A mensagem definitiva da parábola do Bom Samaritano é essa:
PELA GRAÇA DE DEUS EU SOU O QUE SOU.
E SOMENTE POR ELE POSSO TER A VIDA ETERNA.
Finalmente concluímos: A vítima, o sacerdote e o levita
estavam voltando do culto.
O que faço na vida com aquilo que aprendi no culto (no
templo)?
O levita já deveria ter dirigido o louvor e feito a
moçada suar a camisa na aeróbica religiosa.
O sacerdote já tinha pregado o sermão do dia. Mas na rua,
onde a vida acontece, isso não serviu para nada, não era uma matéria acoplada à
vida, não tinha vida e não tinha nada a ver com a vida.
Era matéria de templo, para uso exclusivo no gueto da
igreja.
A lição da parábola passa por aí: o que eu faço na vida, com
aquilo que eu apendo no templo, ou para que serve na vida, o ensino do templo.
É nesse hiato entre o religioso e o salvo pela cruz que
reside a alma da igreja de Jesus.
O religioso cuida de coisas. O salvo cuida de pessoas. A
religião tende a coisificar pessoas e personificar coisas.
O cristão entende que o ser humano está acima do ritual, e
que entre fazer o que é certo e fazer o bem, Jesus orienta a fazer o bem.
Que vantagem pode existir em saber coisas que não são
vividas.
O significado da existência reside muito mais no que eu
vivo do que naquilo que eu sei.
A verdadeira sabedoria se estabelece em função de
experiências pessoais nos mais profundos níveis da vida.
Essa jornada conduz o homem a profundas descobertas interiores
e espirituais, uma viagem mais importante e mais essencial que a jornada do
homem à lua.
De nada adianta viajar até a lua se não conseguimos
cruzar o abismo que nos separa do nosso próximo e por conseguinte, de nos
mesmos.
---
M. e. César de Aguiar
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